Tal hipótese tem sido reforçada em um estudo desenvolvido pelo Prof. Dr. Paulo Barbeitas Miranda, do Grupo de Polímeros "Prof. Bernhard Gross" do Instituto de Física de São Carlos (IFSC/USP), em parceria com pesquisadores do Politecnico Milano, uma instituição de ensino superior sediada em Milão, na Itália.
O objetivo final deste estudo é desenvolver um filme polimérico bastante fino e flexível, depositado sobre um substrato de seda (biocompatível), por forma a que essa placa possa substituir a camada fotosensora da retina. Para investigar este processo em escala laboratorial, os pesquisadores do Politecnico Milano, liderados pelo Prof. Dr. Guglielmo Lanzani, estudaram o comportamento do Politiofeno em contato com a água e, posteriormente, com o soro fisiológico (simulando o ambiente biológico), ao absorver a luz de um laser verde e excitar neurônios de ratos.
De acordo com Paulo Miranda, que orientou o doutorando Sebastiano Bellani (Politecnico Milano) em uma fase posterior do projeto que visava entender a orientação das moléculas de Politiofeno em contato com a água, tal etapa permitiu concluir que, quando interagem com ambas as soluções aquosas, esses polímeros ficam inclinados. "A orientação que os polímeros adotam é importante, porque por vezes ela pode desfavorecer o processo de transferência de carga elétrica", explica Miranda, acrescentando que, neste caso, a inclinação dos polímeros é favorável à transferência. Alguns testes já têm sido executados com sucesso em animais, contudo, a aplicação deste trabalho só poderá ser utilizada por médicos apenas daqui a alguns anos.
Esta parceria teve início no segundo semestre de 2013, quando Bellani ingressou no IFSC/USP através de um dos programas de internacionalização. Todos os experimentos desta etapa do trabalho foram realizados nos laboratórios do Instituto de Física de São Carlos, com a técnica de espectroscopia por geração de soma de frequências, enquanto os pesquisadores italianos executaram análises computacionais para compará-las com os resultados experimentais.
Em breve, o docente do IFSC deverá ir à instituição italiana, onde analisará a transferência de carga do polímero para a água, através de pulsos de luz ultracurtos (na escala de 100 femtosegundos – menos que um quadrilionésimo de segundo), uma vez que os pesquisadores ainda não sabem como e quão rapidamente esse campo elétrico que excita os neurônios é formado. Junto com os especialistas do Politecnico Milano, Paulo Miranda também deverá medir diretamente o campo elétrico gerado pela absorção da luz na interface com a água, buscando uma compreensão ainda maior sobre como esses polímeros deverão atuar no globo ocular.
Em junho último, um artigo sobre esta pesquisa foi publicado no Journal of Materials Chemistry B.