Ele concorreu com cerca de 160 projetos e terminou premiado na sétima edição do Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica (Citenel), realizado de 17 a 19 de agosto na Bahia. O projeto teve início em 2010 e está em sua segunda fase, com conclusão prevista para outubro deste ano.
De acordo com o Balanço Energético Nacional (BEN) da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), em 2014, o consumo nacional de energia elétrica no Brasil atingiu 531.1 TWh, enquanto a oferta neste mesmo ano foi de 624.3 TWh, o que implicou numa perda total de 93.2 TWh. A cada dia, indústrias, comércio, residências e serviço público têm impulsionado mais e mais o consumo de energia. Para suportar essa demanda e evitar apagões, o país conta com Usinas Hidrelétricas (75%), Usinas Termelétricas (24%) e Usinas alternativas, como Solar e Eólica (1%). A grande dificuldade está em saber qual delas utilizar em cada momento para gerar a energia necessária, levando em consideração, sempre, qual das opções tem o menor custo. Esta escolha é o chamado Despacho Hidrotérmico.
O cálculo do Despacho Hidrotérmico é feito pelo software oficial do setor, chamado NEWave, desenvolvido nos anos 1970 pelo Cepel (Centro de Pesquisas da Eletrobrás) e gerido pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Ele contempla duas partes: uma de otimização, ou seja, como aproveitar ao máximo os recursos, e uma de estatística, permitindo ver quais vazões nos reservatórios estão previstas para os próximos cinco ou dez anos, através de simulações. O software desenvolvido no projeto premiado é o Modelo de Despacho Hidrotérmico (MDDH) que realiza função similar ao NEWave, ou seja, gera o despacho hidrotérmico ótimo para um horizonte de até dez anos à frente, com valores mensais do que pode ser gerado por cada subsistema. O resultado, porém, não especifica os valores para cada usina e, sim, para o reservatório equivalente. Ambos utilizam técnicas de simulação, levando em consideração os dados históricos de vazão nos reservatórios. Para evitar o conhecido "mal da dimensionalidade", os reservatórios são agregados em quatro equivalentes, representando as quatro regiões geográficas do país (Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste), e com dados históricos das vazões nos reservatórios.
Tudo começou em 2009, quando a ANEEL propôs às universidades brasileiras o desenvolvimento de um produto, usando novas técnicas que pudessem melhorar o despacho hidrotérmico, como avanço estratégico para o país e usando recursos destinados a P&D (pesquisa e desenvolvimento). O projeto do Departamento de Engenharia Elétrica do CTC/PUC-Rio e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) foi aprovado em 2010 e, com financiamento de empresas como a Duke Energy — a maior empresa de energia elétrica dos EUA, tendo na unidade Brasil seu maior investimento internacional, com mais de US$ 1,5 bilhão aplicados no país desde 1999 — e outras 19 companhias, deu origem a este novo modelo para auxiliar no despacho de energia. Após a conclusão desta primeira fase do trabalho, um grupo de dez empresas, ainda lideradas pela Duke Energy, propôs a contratação da mesma equipe da PUC-Rio e UFJF para dar continuidade a estes desenvolvimentos, que serão concluídos em outubro deste ano. Na divisão do projeto, a equipe do CTC/PUC-Rio ficou encarregada de trabalhar com a parte estatística (estocástica) e o grupo da UFJF estudou a otimização dos recursos. "Os grupos se complementam. A UFJF, que cuida da otimização, precisa dos nossos resultados para alimentar os dados de entrada do programa. Ou seja: trabalhamos integradamente e todos sabem o que está acontecendo com o outro", ressalta Castro Souza.
Competiram no Congresso de Inovação Tecnológica em Energia Elétrica (Citenel) projetos beneficiados pela lei nº 9.9991/2000, que obriga concessionárias e permissionárias de serviços públicos de distribuição de energia elétrica a aplicarem, anualmente, o montante de, no mínimo, 0,75% de sua receita operacional líquida em pesquisa e desenvolvimento (P&D) do setor elétrico e, no mínimo, 0,25% em programas de eficiência energética no uso final. "Conquistar nota quatro (em cinco) e ficar entre os três melhores da ANEEL em todo país mostra ao mercado - cerca de 200 agentes do setor que são obrigados a investir em P&D anualmente - que o CTC/PUC-Rio tem a expertise na área de estocástica para contratar outros projetos e confirma a relevância estratégica do estudo", revela o Prof. Reinaldo Castro Souza, coordenador do projeto e professor do Departamento de Engenharia Elétrica do CTC/PUC-Rio.
O projeto premiado já deu origem a uma Plataforma MDDH, quatro dissertações de Mestrado, uma tese de Doutorado, três artigos publicados em periódicos de elevada relevância (A1, B1 e B2), 12 trabalhos em eventos científicos nacionais e internacionais e também a criação do site para divulgação e gestão científica do projeto (www.mddh.com.br).
Nove alunos do Departamento de Engenharia Elétrica do CTC/PUC-Rio (nos níveis de graduação, mestrado e doutorado) são orientados pelo Prof. Reinaldo Castro Souza com trabalhos diretamente ligados ao MDDH. Segundo o professor, este projeto é excelente para a universidade, seus alunos e para avanços estratégicos do país: "O que fazemos é um projeto de P&D e isso mexe positivamente com a universidade e nossos estudantes, que produzem teses e dissertações com o tema. Temos ainda a possibilidade de ajudar a resolver um problema real do Brasil".