liderado pelo professor Marcelo Adorna Fernandes, também do DEBE. O achado aconteceu em uma caverna na Chapada Diamantina, na Bahia, em parceria com o Grupo Pierre Martin de Espeleologia (GMPE), de São Paulo. Além do docente Adorna, participaram da descoberta Jorge Felipe Moura de Jesus, estudante de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais (PPGERN) da UFSCar; Luiz Aparecido Joaquim, técnico de campo do DEBE; e Ericson Cernawsky Igual, espeleólogo do GPME.
De acordo com Adorna, a espécie, denominada Pampatherium – que significa animal dos pampas –, viveu no final do Período Pleistoceno, habitava a região Nordeste do país e se distribuía para o litoral até o interior da Bahia e Minas Gerais. Adorna conta que todo o trabalho de descoberta do fóssil começou há cerca de três anos. “Em 2012, Ericson, do GPME, nos enviou uma foto de alguns ossos, obtida por ele no interior de uma caverna na região de Iramaia, na Chapada Diamantina. Ao analisar a imagem constatamos que se tratava de um grande animal Pampatherium, um tatu gigante. A partir de então elaboramos um projeto de pesquisa e em 2013 foi programada uma expedição para a localidade da descoberta no intuito de recolher os restos do animal”, lembra o pesquisador.
Como o local é de difícil acesso, foi necessário o auxílio de escada e cordas para se chegar ao lugar onde o animal morreu. “A surpresa foi que não havia apenas um esqueleto completo, com mais de 98% dos ossos – além das placas da carapaça –, mas sim mais dois indivíduos adultos da mesma espécie e outro indivíduo jovem de uma outra espécie”, ressalta. Dois exemplares, um completo e outro parcialmente completo, faltando a cauda, foram recolhidos e trazidos ao Laboratório de Paleoecologia e Paleoicnologia do DEBE. “Também foi coletado o indivíduo jovem para estudos posteriores. Este ano, o animal foi apresentado em defesa pública da dissertação de mestrado do Jorge”, conta Adorna.
A partir de então, análises foram feitas nos fósseis e os pesquisadores descobriram que o tatu gigante tinha as mesmas características dos tatus atuais, com exceção às proporções. “Inclusive utilizamos as espécies atuais de tatus para poder detectar semelhanças e diferenças com o fóssil”, aponta. Segundo Adorna, a comparação com outros indivíduos já descritos e depositados em coleções científicas é fundamental para poder se estabelecer as características morfológicas e osteológicas na identificação de uma nova espécie. “Os processos que levaram à preservação como fóssil, estudados na caverna, são muito importantes para se conhecer os hábitos destes animais extintos, bem como a paleoecologia do lugar onde o animal habitava”.
Com toda a análise, descobriu-se que a espécie antiga de tatu gigante deveria se aproveitar de cavidades naturais, como cavernas, mas também podia produzir tocas, escavando com suas unhas fortes. “Devido a uma dentição que não apresentava esmaltes, se alimentava especialmente de gramíneas e demais vegetais tenros”, analisa o professor.
Além de todas essas pesquisas, o grupo da UFSCar também realizou a tomografia do crânio do animal. “Esse procedimento contribuiu para o entendimento da evolução cefálica do animal comparado ao crânio de um tatu atual. Esta é uma oportunidade interessante de colaboração para as pesquisas paleontológicas, pois é um método que não danifica o material fóssil”, explica Adorna.
Até o momento, no Brasil, apenas um outro esqueleto com aproximadamente 60% da estrutura, sem o crânio, era tido como o mais completo da espécie. “Agora, com esse esqueleto depositado na coleção de paleontologia do DEBE, temos o material do gênero Holmesina major mais completo do Brasil, com 98% do esqueleto coletado e mais de mil placas dérmicas, que correspondem à carapaça do animal, como a dos tatus atuais”, informa Adorna.
Para o pesquisador, a próxima etapa será estabelecer uma idade mais precisa para o esqueleto encontrado, bem como estabelecer os passos finais deste indivíduo até o momento de sua morte, empregando métodos utilizados na Tafonomia. “Além disso, a ocorrência de outros indivíduos da mesma espécie, associados com outro jovem de outra espécie, pode ajudar a explicar as relações paleoecológicas entre estes grupos de tatus gigantes extintos”, explica. Segundo Adorna, a descoberta desse fóssil é significativa por acrescentar mais dados às informações sobre a osteometria e morfologia destes animais, complementando os estudos sobre a evolução e adaptação para o tipo de ambiente pretérito. “Essa descoberta contribui também para estudos relacionados às mudanças ambientais e os processos que levaram à extinção da megafauna brasileira”, finaliza.