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A biodiversidade brasileira sempre atraiu, ao longo da história, olhares atentos de pesquisadores estrangeiros. Nos séculos XVIII e XIX, diversos naturalistas europeus se aventuraram em expedições pelo território nacional e coletaram exemplares da flora do País. De volta à Europa, eles doaram ou venderam essas amostras, que logo passaram a pertencer ao acervo das coleções de história natural de importantes museus europeus.
“Até meados do século XX, essas coleções foram a base do conhecimento que os europeus tinham da natureza brasileira”, contextualizou a botânica Rafaela Campostrini Forzza, do Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro (IP/JBRJ).

Hoje, os locais por onde esses naturalistas passaram, recolhendo as amostras, estão muito modificados ou totalmente destruídos, seja pela expansão urbana ou pela ampliação da fronteira agrícola. Em muitos casos, só existem exemplares da vegetação original desses locais nos acervos europeus, onde foram armazenados. Pensando em recuperar a memória dessa flora perdida, Rafaela coordena o projeto Reflora – Plantas do Brasil: Resgate Histórico e Herbário Virtual para o Conhecimento e Conservação da Flora Brasileira. O programa tem entre seus objetivos resgatar e disponibilizar virtualmente imagens e informações sobre essas amostras de plantas levadas para o exterior. “O Reflora é uma grande biblioteca on-line de plantas, onde é possível armazenar amostras digitalizadas de espécies coletadas no passado para construir, no presente, o conhecimento necessário sobre as plantas brasileiras”, definiu a pesquisadora, que foi Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ.

Trata-se da construção de um conhecimento coletivo. A coleção virtual está sendo ampliada continuamente, em colaboração com importantes instituições internacionais, como o londrino Royal Botanic Gardens, Kew e o Muséum National d'Histoire Naturelle, de Paris. "Ultrapassamos recentemente o marco de um milhão de imagens de plantas digitalizadas e disponibilizadas para o público no site”, destacou Rafaela. O sistema oferece uma rica área de trabalho on-line para os taxonomistas, onde é possível buscar imagens em alta resolução dos exemplares botânicos, com acesso a ferramentas para medição de estruturas, inclusão de novas determinações e associação de duplicatas das amostras da flora brasileira. A Lista de Espécies da Flora do Brasil está em destaque na interface.

A estrutura física do projeto está sediada no Jardim Botânico, onde diversos pesquisadores, entre botânicos e profissionais de tecnologia da informação, trabalham. Mas, para além dos muros dessa instituição bicentenária, o Reflora criou uma ampla rede internacional e nacional de pesquisa taxonômica. “O Royal Botanic Gardens, Kew e o Muséum National d´Histoire Naturelle foram os parceiros pioneiros do projeto. As imagens dos acervos dessas instituições vêm se somando às imagens disponibilizadas pelo próprio Jardim Botânico, no site. Desde 2014, com apoio do Sistema de Informação Sobre a Biodiversidade Brasileira (SiBBr), outros herbários europeus e americanos foram incluídos na iniciativa, como Missouri Botanical Gardens, New York Botanical Garden, Naturhistorisches Museum Wien, em Viena, e Naturhistoriska Riksmuseet, em Estocolmo”, disse Rafaela.

O projeto vem incentivando a vinda de pesquisadores visitantes dessas instituições ao Brasil e a ida de alunos de mestrado e doutorado de todo o País ao exterior, onde participam de programas de pesquisa nessas instituições, para o acesso às informações das amostras e à digitalização das plantas. “Existe uma grande mobilização acadêmica. O projeto inteiro conta com um pequeno exército, formado por cerca de 100 pessoas, de diversos países. O Brasil ganha com a volta das imagens dessas plantas para casa e as instituições estrangeiras ganham porque ajudamos a digitalizar e a divulgar o acervo brasileiro que está com eles”, contou Rafaela.

Além dos herbários europeus e americanos, o Reflora passou a publicar, desde o ano passado, imagens e dados de acervos nacionais – também com apoio do SiBBr e do Inventário Florestal Nacional (IFN). “Estamos capacitando equipes de 17 herbários, de diversas regiões do País, para que eles tenham condições de digitalizar seus próprios acervos botânicos. O acervo do Jardim Botânico já está totalmente digitalizado e estamos compartilhando nossa expertise”, disse. "Esperamos para o próximo ano ampliar ainda mais a rede de parceiros nacionais e internacionais."
 
O trabalho do Reflora acontece justamente no momento em que o Brasil deve se esforçar para alcançar a meta estabelecida pela Estratégia Global para a Conservação das Plantas (GSPC, na sigla em inglês), de elaborar "a flora digital de todo o País", até 2020. “Estamos empenhados em ajudar a cumprir esse compromisso, assinado pelo Brasil durante a Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), em 2010”, afirmou a pesquisadora. “A digitalização dessas amostras também é importante para facilitar o acesso a uma rica fonte de pesquisa da flora brasileira por taxonomistas de todo o mundo, minimizando custos com deslocamentos e ganhando tempo nos estudos”, concluiu.

O programa tem o suporte de diversos agentes financiadores, tanto em nível internacional (Fundo Newton), federal (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior – Capes), quanto estadual (diversas fundações de amparo à pesquisa, incluindo a FAPERJ, por meio do edital Apoio Básico à Pesquisa – APQ 1), além de empresas privadas, como a Natura e a Vale.

Os herbários nacionais e internacionais que participam do projeto Herbário Virtual-Reflora são: Herbário Alexandre Leal Costa (ALCB), Herbário ASE da Universidade Federal de Sergipe, Herbário CEN da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Herbário do Centro de Pesquisas do Cacau (Cepec), Herbário Prisco Bezerra (EAC), Herbário da ESALQ (ESA), Herbário FLOR da Universidade Federal de Santa Catarina, Herbário Dr. Roberto Miguel Klein (FURB), Herbário Barbosa Rodrigues (HBR), Herbário do Depto. de Ciências Florestais da Universidade de Santa Maria (HDCF/UFSM), Herbarium Uberlandense (HUFU), Herbário do Museu Botânico Municipal (MBM), Herbário MG do Museu Paraense Emílio Goeldi, Herbário Rondoniense (RON), Herbário da Univesidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Herbário UPCB da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Herbário Central da Universidade Federal do Espírito Santo (Vies/Ufes), Royal Botanic Gardens de Kew, Muséum National d’Histoire Naturelle de Paris, Missouri Botanical Gardens, New York Botanical Garden, Naturhistorisches Museum Wien e Naturhistoriska Riksmuseet.

Assessoria de Comunicação FAPERJ