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O conselho diretor do Telescópio Gigante Magalhães (GMT, na sigla em inglês) anunciou, nesta quarta-feira (03/06), a decisão de iniciar a primeira fase de construção do megatelescópio nos Andes chilenos. A decisão foi tomada após o consórcio, integrado por 11 instituições internacionais – incluindo a FAPESP –, ter conseguido arrecadar mais de US$ 500 milhões necessários para começar a construção do primeiro de uma nova geração de telescópios extremamente grandes.
O projeto tem a participação da Austrália, do Brasil (representado pela FAPESP), da Coreia do Sul, dos Estados Unidos e do Chile, e custo total estimado de, aproximadamente, US$ 1,05 bilhão.

A FAPESP investirá US$ 40 milhões no projeto, o que equivale a cerca de 4% do custo total estimado. O investimento garantirá 4% do tempo de operação do GMT para trabalhos realizados por pesquisadores de São Paulo, além de assento no conselho diretor do consórcio.

“Essa fase 1 do projeto é crucial e prevê a construção da estrutura mecânica e o início da operação científica do telescópio com, pelo menos, quatro de seus sete espelhos gigantes”, disse João Evangelista Steiner, professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP), à Agência FAPESP.

De acordo com Steiner, a parte óptica do telescópio começou a ser feita antes do início da construção do observatório em razão de ser a parte principal do projeto e do desafio tecnológico que apresenta.

Por isso, somente quando o primeiro espelho óptico, de 8,4 metros, foi finalizado e aprovado, em 2012, começou ser preparado o terreno para a construção do observatório, no topo de uma montanha situada em Las Campanas, a 2,4 mil metro de altitude, no Deserto do Atacama, no Chile, onde o telescópio será instalado.

“Os espelhos já estavam sendo fabricados”, afirmou Steiner. “O primeiro já está pronto e o segundo e o terceiro serão lixados e polidos. Já o quarto será fundido ainda esse ano”, disse.

Segundo Steiner, agora serão escavadas as fundações do observatório e de um gigantesco píer que formará a base do telescópio e construída uma estrutura giratória cilíndrica – que atuará como “cúpula” do telescópio, protegendo-o durante o dia e em ocasiões climáticas adversas e abrindo à noite para a realização de observações.

Além disso, serão construídos edifícios auxiliares, para abrigar equipamentos e laboratórios de apoio.

Paralelamente à construção do observatório, será finalizado, além da fabricação dos quatros primeiros espelhos, um conjunto inicial de instrumentos científicos – incluindo câmaras e espectrógrafos para medir a composição e o movimento de planetas distantes e galáxias –, a fim de que o telescópio possa obter sua “primeira luz” em 2021.

Completada essa fase inicial, serão necessários mais US$ 500 milhões para finalizar a construção dos outros três espelhos do telescópio, até 2024, e para desenvolver um sistema de óptica adaptativa, além dos demais instrumentos científicos necessários para a operação plena do GMT.

“O telescópio já pode ser operado com quatro espelhos, enquanto os restantes estão sendo finalizados”, explicou Steiner.

Construção dos espelhos

Os sete espelhos estão sendo produzidos no laboratório de espelhos do Observatório de Steward, da Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, que é uma das parceiras do projeto.

Cada um dos espelhos pesará, aproximadamente, 17 toneladas e demanda um ano para moldagem e resfriamento do vidro cerâmico, seguido de mais três anos para geração e polimento da superfície.

Juntos, os setes espelhos gigantes formarão o espelho primário do telescópio, com 25,4 metros, que coletará mais de seis vezes a quantidade de luz capturada pelos maiores telescópios ópticos em operação hoje, proporcionando imagens até dez vezes mais nítidas do que as produzidas com o telescópio espacial Hubble.

O equipamento permitirá aos astrônomos investigar a formação de estrelas e galáxias logo após o Big Bang, medir a massa de buracos negros e mapear o ambiente imediato em torno deles.

Além disso, possibilitará descobrir e caracterizar planetas em torno de outras estrelas, com possibilidade de detecção de exoplanetas semelhantes à Terra, e estudar a natureza da matéria e da energia escuras.

“O GMT representa uma nova realidade em comparação com os telescópios ópticos atuais”, disse Steiner.

“Os recursos necessários para iniciar a primeira fase do projeto foram completados com a adesão da FAPESP ao consórcio, no final de 2014”, afirmou.

A participação dos pesquisadores do Estado de São Paulo no GMT será nos mesmos moldes da colaboração nos observatórios Gemini, cujas operações iniciaram em 2000 com dois telescópios “gêmeos” – um nos Andes chilenos e outro no Havaí –, e no Southern Observatory for Astrophysical Research (SOAR, na sigla em inglês), inaugurado em 2004.

O Brasil conta com 6% de participação nas observações do Gemini, cujos telescópios têm espelhos principais com 8,1 metros de diâmetro. No SOAR, com espelho de 4,2 metros de diâmetro, a participação brasileira é de 30%.

Além do GMT, há outros dois projetos de telescópios gigantes sendo desenvolvidos internacionalmente: o European Extremely Large Telescope (E-ELT), coordenado pelo Observatório Europeu do Sul (ESO), e o Thirty Meter Telescope (TMT), administrado pelo California Institute of Technology e pela University of California.

Mais informações sobre o GMT podem ser obtidas no site www.iag.usp.br/gmt/pfs/.

Agência FAPESP