O evento faz parte de uma missão de educação para países da América Latina realizada pelo governo do estado australiano, com o objetivo de buscar parcerias em pesquisa em áreas como educação, gestão da água, planejamento urbano, agricultura e biotecnologia.
“Nosso governo está comprometido em fomentar relações em pesquisa e planejamento urbano talvez seja um dos temas centrais para a realização de estudos conjuntos entre pesquisadores de Victoria e do Estado de São Paulo”, disse Steve Herbert, ministro para formação e competências do governo do Estado de Victoria, na abertura do evento.
“Há boas pesquisas relacionadas a questões urbanísticas sendo realizadas em países da América do Sul, incluindo o Brasil, além da Austrália e da África do Sul. Por isso, deveríamos unir nossos interesses e criar um centro para a realização de pesquisa colaborativa sobre cidades no hemisfério Sul”, explicou Kvan.
“Queremos estabelecer um centro para estudar e discutir questões urbanísticas relacionadas a cidades do hemisfério Sul porque a maioria das pesquisas sobre isso são relacionadas a metrópoles dos Estados Unidos e da Europa e, muitas vezes, não refletem a realidade de cidades do nosso hemisfério”, disse Kvan.
O centro, já batizado de Southern Cities Research Centre, será estabelecido na University of Melbourne e reunirá, além de pesquisadores, representantes de órgãos do governo, empresas e da sociedade civil.
Modelos de governança e financiamento de projetos de política urbana, saúde e ambientes urbanos, ecologia e urbanismo, infraestrutura e déficit habitacional serão alguns dos temas a serem estudados no centro de pesquisa.
De acordo com pesquisadores presentes no encontro, a Austrália possui algumas características comuns com países sul-americanos, como Brasil e Chile: são nações altamente urbanizadas, que enfrentam o desafio de administrar o crescimento urbano promovendo, ao mesmo tempo, a equidade e a sustentabilidade nas cidades.
Embora muitos dos problemas urbanos enfrentados tanto na Austrália como na América do Sul sejam semelhantes, as soluções adotadas variam consideravelmente, ponderaram.
Dessa forma, seria possível realizar, no âmbito do centro de pesquisas sobre cidades do hemisfério Sul, estudos comparativos sobre políticas de planejamento urbano implementadas em diferentes cidades e replicar modelos bem-sucedidos, indicaram.
“Estamos começando a identificar temas que talvez venhamos a abordar nas pesquisas realizadas no âmbito do centro de estudos”, disse Tony Dalton, diretor-adjunto do Instituto de Pesquisa de Cidades Globais da RMIT University, da Austrália. “Um deles é a importância dos subúrbios para as nossas cidades”, apontou.
Suburbanização
Segundo Dalton, a exemplo de outros países altamente urbanizados, a Austrália também está enfrentando o aumento do processo de suburbanização, caracterizado pelo crescimento das cidades para fora de seus limites.
A capacidade de ocupação dos imóveis disponíveis nos subúrbios do país, contudo, está diminuindo, uma vez que estão ficando velhos e impróprios para a moradia.
Por isso, estão sendo discutidos planos de reformas das cidades suburbanas que levem em conta questões como a redução do uso de energia e adaptação às mudanças climáticas.
“Precisamos pensar em que tipos de materiais de construção vamos usar nesses lares, que deverão ser menores e ter menos aquecimento e mais refrigeração em razão das ondas de calor que vem acontecendo no país nos últimos anos”, avaliou.
De acordo com o pesquisador, o tamanho médio das casas na Austrália vem diminuindo nos últimos anos. Inversamente, o consumo per capita de energia e de água nesses lares vem aumentando e as projeções indicam que continuarão a subir, ressaltou.
“Os lares na Austrália têm um padrão de uso eficiente de energia muito baixo”, afirmou. “Houve uma ligeira melhora na economia doméstica de água em razão de uma seca recente, que durou quase dez anos e atingiu o sul do Estado de Victoria e a costa leste da Austrália, e fez com que muitas pessoas começassem, pela primeira vez, a poupar água. Mas ainda temos um longo caminho a percorrer”, avaliou.
Segundo ele, nos últimos anos o governo iniciou algumas ações para estimular o aumento da eficiência energética e do uso de águas nos lares australianos.
As iniciativas governamentais nessa área, porém, ainda são incipientes, avaliou. “Há um certo apoio do governo para estimular a eficiência energética e de uso de água nos lares na Austrália. Mas ainda é muito pouco”, afirmou.
Visita ao Brasil
O Brasil foi a segunda escala da missão de educação realizada pelo governo do Estado de Victoria na América Latina.
Antes de vir ao país, a delegação, composta por cerca de 20 representantes de universidades e instituições de pesquisa e do governo do estado australiano, passou pelo Chile e seguirá do Brasil para Colômbia e Peru.
No estado australiano estão localizadas oito das 38 universidades públicas da Austrália. Apesar de representarem pouco mais de um quinto do total das universidades públicas australianas, as universidades públicas de Victoria atraíram mais de 40% de todo o orçamento disponível para pesquisa na área de Saúde no país em 2013, disse John Dewar, reitor da La Trobe University.
“Em 2013, as oito universidades públicas do Estado de Victoria atraíram 1 bilhão de dólares australianos para pesquisa em diversas áreas”, afirmou Dewar. “Isso significa que o Estado de Victoria – principalmente a cidade de Melbourne – é o carro-chefe da pesquisa na Austrália”, avaliou.
A FAPESP possui acordos de cooperação com seis universidades australianas, incluindo a University of Melbourne. O acordo mais recente foi assinado em dezembro de 2014 com a Victoria University.
“Uma das nossas preocupações na FAPESP no processo de fomentar a colaboração científica entre pesquisadores do Estado de São Paulo com os do exterior tem sido ir além dos lugares tradicionais para buscar essas oportunidades uma vez que, no mundo atual, a pesquisa não está concentrada apenas em alguns países principais, mas está sendo desenvolvida em diferentes partes”, disse Celso Lafer, presidente da FAPESP, na abertura do evento.
“Nesse sentido, a Austrália, naturalmente, é um parceiro importante”, avaliou.
Agência FAPESP