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Um novo sistema para classificar a agressividade dos tumores de próstata e orientar os médicos na escolha do tratamento foi apresentado na 18ª Jornada de Patologia promovida pelo A.C. Camargo Cancer Center no início de março. Desenvolvido pelo grupo do patologista Jonathan Epstein, na The Johns Hopkins University (Estados Unidos), o novo método – ainda sem nome oficial – poderá substituir o chamado Escore de Gleason, usado desde os anos 1960 e considerado em todo o mundo a principal ferramenta de avaliação do prognóstico de homens com tumores na próstata. “O sistema que propomos é mais simples, com graus que variam de 1 a 5. Sendo tumores de grau 1 os mais indolentes, que requerem apenas vigilância ativa. Os de grau 5 são os mais agressivos, que necessitam de tratamento imediato e radical, como prostatectomia (retirada do órgão) e radioterapia”, explicou Epstein à Agência FAPESP.

Segundo o norte-americano, que representou no evento a Sociedade Internacional de Uropatologia, a proposta é usar a nova classificação inicialmente em conjunto com o Escore de Gleason, com o qual os médicos já estão acostumados.

Os dois sistemas são baseados na análise feita ao microscópio de uma amostra do tumor obtida por meio de biópsia. O patologista observa a arquitetura do tecido prostático e avalia o quanto ela ainda se parece com a de uma próstata sadia.

No caso do método Gleason, o relatório oferece um escore final que varia entre 2 e 10. Este resultado representa a soma de dois padrões que podem variar de 1 a 5 – quanto maior o número, menos a arquitetura do tecido se assemelha ao normal.

“O patologista, pelo método tradicional, observa qual é o padrão predominante na amostra e confere uma nota de 1 a 5. Depois avalia qual é o segundo padrão mais presente e confere uma segunda nota. O escore final de Gleason será a soma das duas notas. Mas há várias possibilidades de combinação para formar, por exemplo, um escore 7”, explicou Fernando Augusto Soares, Diretor do Departamento de Anatomia Patológica do A.C. Camargo Cancer Center.

Medo do câncer

Na opinião de Epstein, o método tradicional de pontuação pode trazer problemas de interpretação da gravidade do tumor, levando a tratamentos desnecessários.

“Apenas escores acima de 6 na gradação de Gleason são considerados câncer, e mesmo um tumor de escore 6 é considerado bom e não necessita de tratamento. O problema é que o paciente pensa que seu tumor já está no meio da escala e isso causa um grande medo do câncer”, disse Epstein.

Outro problema apontado por Epstein é que um escore 7 – dependendo da soma realizada (2 + 5 ou 4 + 3, por exemplo) – pode representar tanto um tumor indolente quanto um tumor potencialmente agressivo.

“No caso de escores 8, 9 e 10 não há margem para dúvidas, é preciso tratar. Mas o 7 pode gerar confusão. No novo método que estamos propondo, tumores de grau 2 seriam o equivalente a um ‘bom 7’. Tumores de grau 3 seriam o equivalente a um ‘mau 7’. Depois temos os de grau 4 e 5 que são progressivamente mais perigosos. Colocando a nota final em uma escala mais apropriada, esperamos contribuir para diminuir o medo do câncer”, disse Epstein.

A eficácia da metodologia foi testada e aprovada em um estudo multicêntrico com mais de 20 mil pacientes realizado nos Estados Unidos. Os resultados devem ser publicados nos próximos meses.

O método também foi apresentado em 2014 durante uma reunião da Sociedade Internacional de Uropatologia, que reuniu patologistas, oncologistas, urologistas e especialistas em radioterapia de vários países. Cerca de 80% dos presentes aprovaram a adoção da nova metodologia, segundo relatou Epstein.

“Como tudo em medicina, o novo método ainda precisa ser validado pelo tempo. Para o patologista é mais prático, mas antes ele precisa aprender e isso vai exigir uma ação de educação”, opinou Soares.

De acordo com o médico do A.C. Camargo Cancer Center, cerca de 70% dos homens desenvolverão tumores de próstata até os 80 anos. O grande desafio é identificar quem de fato precisa de tratamento, uma vez que há mais de 90% de chances de cura quando o tumor é descoberto e tratado no início.

“Por outro lado, muitos podem viver toda a vida com o tumor sem nem perceber. E o tratamento não é inócuo, pode deixar sequelas, como impotência sexual e incontinência urinária”, disse.

Agência FAPESP