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Alguma coisa aconteceu neste século nos padrões de segregação residencial da Região Metropolitana de São Paulo, que não era prevista no fim do século passado. A metrópole continua intensamente segregada, mas não seguiu a tendência esperada de polarização de espaços e estrutura social. Se cresceu a exclusividade das áreas habitadas pelas elites, o restante da cidade experimentou um processo de alteração que a tornou mais heterogênea.
“A hipótese da polarização social contínua, expressa em metáforas famosas como ‘cidade partida’, não se provou em São Paulo”, diz Eduardo Marques, professor do Departamento de Ciência Política da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) e pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole (CEM), um dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) apoiados pela FAPESP.

“A dinâmica da estrutura social realmente apontou para a polarização ocupacional nos anos 1990, mas isso foi plenamente revertido nos anos 2000. Em relação ao que se previa, a metrópole mudou menos e de modo diferente.”

O quadro que se desenha confirma um diagnóstico surgido nos anos 1990 sobre as grandes tendências urbanas relacionadas às transformações do capitalismo ocorridas desde a década de 1970, como a formação de um grupo social de super-ricos e a criação de bolhas imobiliárias que abrigariam núcleos de comandos dos negócios.

No entanto, os efeitos da desindustrialização iniciada no período – que seriam o esvaziamento de atividades intermediárias na escala produtiva, em particular a fordista (modelo de produção industrial em massa) – não se verificam totalmente no estudo das mudanças ocorridas nas últimas décadas em São Paulo.

A presença relativa da indústria se reduziu em favor de comércio e serviços – setor que gerou 800 mil postos de trabalho na década de 2000 na Grande São Paulo –, mas não por esvaziamento da atividade, como em outros países, e sim porque o setor se deslocou para outras regiões, como as macrometrópoles de Campinas e São José dos Campos.

Além disso, a atividade fordista se insere ainda como a classe mais numerosa (trabalhadores manuais qualificados) da metrópole no Censo de 2010, embora “em queda associada ao crescimento dos profissionais e das camadas médias”. O impacto no mapa da segregação social é importante: as classes que mais cresceram proporcionalmente tenderam a se desconcentrar na primeira década deste século, enquanto as que apresentaram redução (a dos mais ricos) aumentaram sua exclusividade.

Marques chegou a essas conclusões por meio de um estudo que se utilizou de dados dos censos de 1991, 2000 e 2011. Um artigo sobre o assunto, intitulado Estrutura social e segregação em São Paulo: Transformações na década de 2000, foi publicado em dezembro na revista Dados, do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), e será um dos capítulos do livro São Paulo 2010: Espaços, heterogeneidades e desigualdades na metrópole, que tem lançamento previsto para maio pela Editora Unesp.

Na distribuição habitacional da metrópole, o estudo detecta um padrão de evitação social, verificado por índices de dissimilaridade e de Moran (medidas de segregação residencial) e distribuição proporcional de classes na região metropolitana.

“Não é só um grupo que se isola, embora as elites realmente sejam os grupos mais segregados, mas é uma característica da própria estrutura da segregação”, diz Marques. “Os dados sugerem de forma bastante eloquente que, quanto maior a distância social entre classes, maior a segregação, sugerindo um padrão de evitação nas escolhas residenciais dos grupos que podem pagar preços mais altos pela terra.”

A conclusão vai ao encontro de estudos antropológicos e sociológicos que tratam de temas como o uso de espaços públicos nas cidades, condomínios fechados e ascensão dos shopping centers.

Leia a reportagem completa em http://revistapesquisa.fapesp.br/2015/02/18/os-novos-arranjos-da-metropole/.

Revista Pesquisa FAPESP