“Muitos grupos têm trabalhado com partículas de ouro com cerca de 10 ou 20 nanômetros (nm) de diâmetro. Nosso objetivo é sintetizar partículas com menos de 3 nm, pois estudos in vivo de outros pesquisadores mostraram que elas são pequenas o suficiente para serem excretadas pelos rins e, portanto, não se acumulam no organismo”, disse Sousa em entrevista à Agência FAPESP.
De acordo com o pesquisador, dados da literatura científica revelam que esse tipo de partícula metálica, apesar do tamanho diminuto, mantém certa preferência por se depositar em tecidos tumorais, onde há grande vascularização e pouca drenagem linfática. Com isso, ela demora mais para ser excretada.
Embora ainda não tenha sido testado in vivo nenhum potencial uso terapêutico, existe uma teoria de que as partículas metálicas ultrapequenas poderiam servir como carreadoras de drogas contra o câncer.
“Uma preocupação do nosso projeto é sintetizar partículas esféricas extremamente uniformes, pois acreditamos que pequenas diferenças de tamanho possam resultar em diferentes efeitos biológicos. A maior parte dos trabalhos publicados por outros grupos até o momento mostrou, em geral, partículas bastante heterogêneas”, disse Sousa.
Para caracterizar a partícula após a síntese, a equipe da Unifesp usa técnicas como microscopia eletrônica de transmissão-varredura e ultracentrifugação analítica. Em conjunto, as metodologias permitem detectar com alta resolução pequenas diferenças de tamanho e forma.
Outro aspecto importante a ser levado em conta, explicou Sousa, é a composição química da superfície, pois, além do tamanho, ela também é um fator que determina o comportamento da partícula no meio biológico.
“Toda partícula metálica precisa de uma camada orgânica que lhe dê solubilidade. Em nosso projeto, propomos decorar a superfície das partículas com diferentes combinações de pequenos peptídeos – com cerca de três aminoácidos apenas – e estudar como isso modifica a interação com proteínas”, explicou o pesquisador.
Para estudar a interação entre as partículas metálicas e diferentes proteínas modelo, o grupo faz uso de diversas técnicas biofísicas. Em especial, tem sido testada uma metodologia conhecida como ressonância plasmônica de superfície – normalmente utilizada em pesquisas que buscam desvendar a interação entre duas proteínas.
“O equipamento permite calcular a afinidade, bem como a cinética (velocidade) com que a interação ocorre, se é que ela ocorre. Já estamos realizando os primeiros testes”, contou.
Os experimentos têm contado com a colaboração do pesquisador Peter Schuck, do National Institute of Biomedical Imaging and Bioengineering – um dos órgãos vinculados ao National Intitutes of Health (NIH), dos Estados Unidos.
“Procuramos entender, do ponto de vista da ciência básica, como a atividade biológica é afetada ao mudar a estrutura da partícula – seja o tamanho, a forma ou a química de superfície. Acreditamos que esse conhecimento poderá ser útil no desenvolvimento de nanopartículas com melhores respostas biológicas”, afirmou o pesquisador.
Nanopartículas magnéticas
No mesmo painel dedicado ao tema Nanotecnologia e Fotônica, o pesquisador Stefan Lyer, vice-líder da Seção de Oncologia Experimental e Nanomedicina do Departamento de Otorrinolaringologia da Universidade Hospital Erlangen, na Alemanha, apresentou resultados de um projeto cujo objetivo é desenvolver nanopartículas magnéticas para serem usadas como carreadoras de drogas contra o câncer.
"Estamos sintetizando nanopartículas magnéticas com núcleo de óxido de ferro e uma camada externa biocompatível. As partículas são estabilizadas e carregadas com drogas quimioterápicas. A ideia é que possam entregar grandes concentrações de medicamento diretamente no tecido afetado pelo tumor", explicou.
A eficácia e a segurança do método já começaram a ser testadas em ensaios pré-clínicos. Caso novos ensaios clínicos sejam bem-sucedidos, acredita-se que a tecnologia poderá reduzir custos e efeitos colaterais do tratamento do câncer, além de aumentar sua eficácia.
Agência FAPESP