Com isso, a velocidade de comunicação das universidades e instituições de pesquisa integrantes da Rede ANSP com as redes acadêmicas dos Estados Unidos e de outros países – atualmente de 40 gigabits – poderá ser 2,5 vezes maior e 50 mil vezes mais rápida do que o acesso em banda larga mais comum no Brasil, de até 2 megabits por segundo (Mbsp).
“Estamos em fase de testes e esse link deverá começar a funcionar no primeiro semestre de 2015”, disse Luis Fernandez Lopez, coordenador geral da Rede ANSP, à Agência FAPESP. “Será a primeira conexão de internet acadêmica de 100 gigabits entre os hemisférios Sul e Norte.”
De acordo com Lopez, o primeiro link de internet de 10 Gbps conectando São Paulo a Miami foi instalado em 2009. Posteriormente foram instalados mais três links entre as duas cidades, também com 10 Gbps cada.
O problema é que essa velocidade de transmissão começou a ficar saturada. “Para transmitir um pacote de dados de 15 gigabits por segundo, por exemplo, é preciso juntar dois links de 10 gigabits por segundo e fazer uma série de adaptações para conseguir enviá-lo”, disse Lopez.
Ao aumentar a velocidade de transmissão de dados entre a rede acadêmica paulista e a norte-americana para 100 Gbps, será possível obter um fluxo de dados muito maior nos próximos anos, quando entrarão em operação novos supertelescópios e o Grande Colisor de Hádrons (LHC, na sigla em inglês), na Suíça, rodará com maior energia (leia mais sobre megatelescópios em construção em agencia.fapesp.br/19478).
A partir de 2015, começarão a ser testados os sistemas de transmissão de dados do Large Synoptic Survey Telescope (LSST) – um telescópio de 6,4 metros de diâmetro, de grande campo, que está sendo construído por um consórcio norte-americano em Cerro Pachon, no Chile (leia mais sobre o LSST em agencia.fapesp.br/9085).
No mesmo ano, o LHC deverá iniciar a operação com maior energia, de entre 13 e 14 teraelétrons-volt (TeV), em comparação com os 8 TeVs com os quais rodou nos últimos anos. O aumento de energia será acompanhado pelo aumento do número de eventos no colisor (leia mais sobre os experimentos do LHC em 2015 em agencia.fapesp.br/19661).
“Quando esses projetos estiverem em operação, o tráfego de dados entre São Paulo e Miami, da meia-noite às 4 horas da manhã, deverá ser de 80 gigabits por segundo”, estimou Lopez. “O link de 100 gigabits por segundo será capaz de suportar esse aumento do fluxo de dados e permitirá transmiti-lo de uma só vez.”
Lopez afirma que o aumento da velocidade na Rede ANSP para Miami beneficiará não somente pesquisadores das áreas de Astronomia, Física de Altas Energias e Mídias Digitais, que costumam trabalhar com pacotes de dados maiores, mas também de outras áreas. Isso porque, atualmente, há dias em que é utilizada quase que integralmente a capacidade de transmissão de 40 Gbps da rede entre São Paulo e Miami.
“Independentemente do início da operação dos grandes projetos de Astronomia e de Física de Altas Energias, já era preciso mais banda larga para atender à demanda dos pesquisadores do Estado de São Paulo”, disse Lopez.
Conexão mundial
No começo deste ano, as redes acadêmicas dos Estados Unidos (Internet2) e da Europa (Géant2) iniciaram testes de um link de 100 Gbps entre Nova York e Amsterdã, na Holanda.
O link deverá ser estendido nos próximos meses pela Internet2 de Nova York para Miami e São Francisco, nos Estados Unidos, onde haverá em 2015 um outro link com o Japão, mantido pela rede acadêmica asiática – a Asia Pacific Advanced Network –, também com velocidade de transmissão de 100 Gbps.
Assim, a velocidade de comunicação pela internet entre pesquisadores do Estado de São Paulo com os da Europa e da Ásia, além dos Estados Unidos, também será mais que duplicada em 2015.
“Teremos a partir do próximo ano um backbone [rede principal de tráfego de dados pela internet] em T de 100 gigabits por segundo entre Brasil, Estados Unidos, Canadá, Europa e Japão”, disse Lopez. “E já estamos discutindo tecnologias para links de 400 gigabits por segundo.”
A Rede ANSP mantém desde 2004 um ponto de presença em Miami, no ponto de tráfego chamado de NAP das Américas, onde é feita a conexão tanto com as redes acadêmicas internacionais como com a internet comercial internacional.
O ponto de tráfego é mantido pela rede acadêmica paulista em colaboração com a Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP), de abrangência nacional, e o Center for Internet Augmented Research and Assessment da Florida International University (Ciara-FIU), por meio de acordos internacionais.
A parceria com o Ciara-FIU para estabelecer um link da rede acadêmica paulista com Miami começou a ser planejada em 2002, quando a internet comercial brasileira – nascida e administrada inicialmente pela Rede ANSP – passou a ser gerida pelo governo federal. A rede acadêmica paulista retomou, então, sua finalidade inicial, de prover infraestrutura de rede para pesquisadores do Estado de São Paulo.
“Nessa fase de transição percebemos que, como a colaboração em pesquisa estava se tornando cada vez mais internacional, era fundamental prover aos pesquisadores de São Paulo uma boa conectividade de internet; para isso, precisávamos ter um bom acordo de cooperação com um grupo de pesquisadores no exterior”, contou Lopez.
“Como todos os cabos submarinos do Brasil vão para Miami e a Universidade Internacional da Flórida estava disposta a colaborar com países da América Latina, Miami acabou se tornando um ponto ideal para estabelecermos um link”, contou.
Video em YouTube
Rede ANSP: a internet acadêmica paulista mais do que dobrará a velocidade em 2015
http://youtu.be/gp0HaE9GVL0
Expansão do atendimento
A Rede ANSP foi criada em 1989, pela FAPESP, com o objetivo de conectar pesquisadores do Estado de São Paulo dentro do próprio estado, com os de outros estados brasileiros e com outros países.
Inicialmente, a rede acadêmica paulista conectou grupos de pesquisadores da área de Física de Altas Energias das Universidades de São Paulo (USP), Estadual Paulista (Unesp) e Estadual de Campinas (Unicamp), além do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), com o Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab) em Chicago, nos Estados Unidos.
Hoje, passados 25 anos de sua criação, a Rede ANSP conecta sete universidades públicas paulistas e mais de 40 instituições de pesquisa situadas em São Paulo à rede mundial de computadores. E viabiliza grandes projetos de pesquisa colaborativos em áreas como Genômica, Biodiversidade, Astronomia, Física de Altas Energias e Fotônica, entre diversas outras.
“A Rede ANSP viabilizou e continua a viabilizar a realização de pesquisas científicas que não poderiam ser feitas de outra forma a não ser por meio de redes de colaboração”, avaliou Lopez.
A rede acadêmica paulista presta dois importantes serviços à comunidade de pesquisa do Estado de São Paulo. Em primeiro lugar, fornece um ponto de troca de tráfego para que as universidades e instituições de pesquisa de São Paulo se conectem tanto entre elas como com as redes acadêmicas de outras partes do mundo e com a internet comercial brasileira e internacional.
O segundo serviço é o provimento de links especiais para grupos de pesquisadores que necessitam de uma conectividade própria e específica, como os do Centro de Pesquisa e Análise de São Paulo (Sprace), abrigado no Núcleo de Computação Científica da Unesp e apoiado pela FAPESP.
A estrutura computacional do Sprace integra a colaboração Solenoide Compacto de Múons (CMS, na sigla em inglês), do LHC, e conecta os pesquisadores do grupo de Física de Altas Energias da instituição a colegas em Genebra, na Suíça.
“Também mantemos circuitos virtuais, de bandas muito largas, entre São Paulo e Chile, para possibilitar o acesso de pesquisadores daqui ao telescópio Soar [sigla de Southern Observatory for Astrophysical Research]", contou Lopez.
Segundo Lopez, alguns dos principais desafios tecnológicos para a rede acadêmica paulista são garantir a segurança e a não interrupção na transmissão de dados entre os pesquisadores que participam desses grandes projetos de pesquisa colaborativa.
“Temos que ampliar cada vez mais a capacidade das nossas redes de modo a não causar nenhum problema para a realização das pesquisas científicas. Um cientista envolvido em um grande projeto de astronomia não pode se preocupar com a maneira como o seu pacote de dados será transmitido de La Serena, no Chile, para São Paulo, por exemplo”.
Entre os dias 25 e 27 de julho, a Rede ANSP realizou, no teatro central da Faculdade de Medicina da USP, sua 6ª Reunião Semestral. A programação do evento foi composta por cursos e simpósios sobre cibersegurança, novas tecnologias de redes e sobre os 25 anos da ANSP.
Agência FAPESP