Alguns desses vírus gigantes, isolados no Brasil por pesquisadores do Grupo de Estudo e Prospecção de Vírus Gigantes (GEPViG) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foram apresentados em uma palestra no dia 29 de abril, no Simpósio Internacional Biota Micro-organismos, realizado na FAPESP.
“Temos feito estudos sobre a diversidade desse tipo de vírus no Brasil e sobre a evolução e a relação desses agentes com seus hospedeiros e com o sistema de defesa do organismo humano”, disse Jônatas Abrahão, professor da UFMG e um dos pesquisadores do GEPViG, à Agência FAPESP.
Abrahão contou que um vírus gigante foi isolado em 1992 a partir de uma torre de resfriamento em um hospital em Bradford, na Inglaterra, mas, inicialmente, foi identificado erroneamente como uma bactéria e associado a amebas, que são hospedeiras e servem de reservatório para replicação de vírus e bactérias.
Somente em 2003 um grupo de pesquisadores da Université de la Méditerranée em Marselha, na França, publicou um artigo na revista Science identificando o microrganismo como um vírus, de um tipo que chamaram mimivírus.
Desde então, foram descobertos outros vírus gigantes, como o Pandoravirus dulcis, identificado no Chile e na Austrália e descrito em outro artigo na Science em julho de 2013.
Descrito este ano na Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), outro vírus gigante, o Pithovirus sibericum, foi isolado do solo da Sibéria após permanecer mais de 30 mil anos congelado.
“Onde há amebas, principalmente do gênero Acanthamoeba, é possível encontrar esse tipo de vírus. E como há amebas em todos os lugares – inclusive no solo congelado da Sibéria – é muito provável encontrar vírus gigantes em qualquer região do mundo”, disse Abrahão.
Exemplos no Brasil
O Samba (SMBV) foi o primeiro vírus gigante isolado no Brasil, encontrado em 2011 no Rio Negro, no Amazonas. O vírus, que ganhou o nome de um dos mais conhecidos gêneros musicais brasileiros, teve seu genoma completo sequenciado em 2012, pelos pesquisadores da UFMG em parceria com colegas da Aix-Marseille Université, da França.
As análises do sequenciamento genômico do vírus gigante brasileiro foram descritas em um artigo que acaba de ser publicado no Virology Journal”. “Constatamos que o Samba codifica genes até então somente observados em células”, disse Abrahão.
“Um vírus codificar genes relacionados com tradução proteica é algo que balança nossa concepção sobre a origem da vida e a evolução. Por isso é muito importante estudar esses vírus ancestrais”, ressaltou.
Outros vírus identificados pelos pesquisadores da UFMG são o Cipó, localizado no Parque Nacional da Serra do Cipó, e o Niemeyer, encontrado na Lagoa da Pampulha, em Minas Gerais. Apesar de semelhantes, as amostras dos vírus gigantes brasileiros revelaram que eles têm características morfológicas e genômicas diferentes.
“Eles possuem diferenças notáveis no tamanho, na estrutura e na composição genômica e estão por toda a parte, independentemente do bioma analisado”, disse Abrahão.
De acordo com o pesquisador, alguns estudos publicados nos últimos anos sugerem que os vírus gigantes podem causar pneumonia em seres humanos. Mas os resultados ainda não são conclusivos.
“Há estudos que demonstram que eles são capazes de se replicar em monócitos do pulmão humano. Mas a relação deles com pneumonia ainda não está completamente comprovada”, disse Abrahão.
Em um artigo publicado em março na revista Emerging Infectious Diseases, os pesquisadores da UFMG relataram a circulação de vírus gigantes entre mamíferos silvestres e domésticos na Amazônia brasileira.
O artigo Samba vírus, a novel mimivirus from a giant rain forest, the Brazilian Amazon (doi: 10.1186/1743-422X-11-95), de Abrahão e outros, pode ser lido no Virology Journal em www.virologyj.com/content/11/1/95.
E o artigo Mimivirus circulation among wild and domestic mammals, Amazon region, Brazil (doi: 10.3201/eid2003.131050), também de Abrahão e outros, pode ser lido na revista Emerging Infectious Diseases em wwwnc.cdc.gov/eid/article/20/3/13-1050_article.htm.
Agência FAPESP