Ela consiste na aplicação de uma pergunta (Como foi a sua sessão de treinamento?), 30 minutos após os treinos, sobre como foi a intensidade do esforço físico, em uma escala de 0 a 10.
O método já é utilizado em esportes como futebol, natação, rúgbi e canoagem e, agora, foi validado também para o tênis, pelo Grupo de Adaptações Biológicas ao Exercício Físico da EACH.
Para tanto, o estudo Quantificação da carga de treinamento no esporte, que teve apoio da FAPESP, cruzou dados de frequência cardíaca e informações coletadas a partir da PSE da sessão.
“Concluímos que a resposta do coração e o esforço percebido pelo tenista aferido pela PSE da sessão têm uma ótima concordância, validando o método. Além de confiável, esse método é facilmente aplicado, apresenta baixo custo e não requer intervenções laboratoriais”, disse Marcelo Saldanha Aoki, coordenador da pesquisa e professor do curso de Educação Física e Saúde da USP, à Agência FAPESP.
Monitorar de forma segura os estímulos desencadeados pelas sessões de treinamento é fundamental, de acordo com Saldanha, para que técnicos e preparadores físicos quantifiquem a carga de exercícios de modo a maximizar o desempenho do atleta – o que depende da variação e da progressão dos estímulos, bem como de períodos de recuperação apropriados –, sem abrir mão dos cuidados necessários para evitar lesões e fadiga crônica ocasionadas por excesso de treinamento (overtraining).
O cruzamento da PSE com os dados de frequência cardíaca – medidos com o auxílio de frequencímetros – incluiu o acompanhamento de 400 sessões de treinamento, realizadas em clubes e academias de tênis das cidades de São Paulo e Guarulhos.
Além disso, os atletas foram monitorados durante a preparação de cinco semanas pré-torneio. “Depois de validar o método da PSE para períodos de treinamento, nós o aplicamos durante a preparação para uma competição oficial, avaliando parâmetros hormonais, imunológicos e o desempenho físico dos atletas”, disse Saldanha.
Para tanto, essa etapa contou com a coleta de outros marcadores (cortisol, testosterona, IgA), além da PSE e da frequência cardíaca, chegando a uma nova concordância entre os dados. “Em um cenário de percepção de esforço aumentado, por exemplo, verificamos elevação no nível do hormônio relacionado a situações de estresse, o cortisol. Ou seja, o comportamento da PSE refletiu a resposta de alguns parâmetros fisiológicos investigados”, explicou Saldanha.
Os resultados da primeira etapa estão em fase de submissão para publicação e os da segunda deram origem ao artigo Monitoring training loads, stress, immune-endocrine responses and performance in tennis players, publicado em Biology of Sport.
Dano muscular induzido pela partida de tênis
Outra etapa do estudo conduzido na EACH/USP buscou avaliar o que acontece em uma partida oficial de tênis em termos de dano muscular. Para isso, os pesquisadores organizaram uma partida simulada e realizaram diferentes medições imediatamente após a competição, 24 e 48 horas depois.
Foram feitos testes bioquímicos (com medição da concentração, no plasma, de enzimas encontradas no músculo esquelético – sinal de que houve dano muscular), testes de funcionalidade (caso tenham passado por processo de lesão, os músculos apresentam perda de força) e testes subjetivos (sensação de desconforto muscular).
Os resultados, também publicados no periódico Biology of Sport, no artigo Muscle damage after a tennis match in young players, apontaram para danos musculares moderados.
“Nosso estudo esbarra na limitação de não ter investigado partidas seguidas – cinco ou seis jogos em uma semana, como frequentemente acontece nas competições oficiais. Nesses casos, acreditamos que o efeito das partidas seja acumulado e o dano muscular possa ser maximizado. Além disso, os atletas que acompanhamos são altamente treinados e acostumados com grandes exigências físicas. Acreditamos que tenistas iniciantes podem apresentar maior dano muscular em resposta a uma única partida”, disse Saldanha.
“É possível que, no futuro, ampliemos as pesquisas para avaliar cenários com partidas subsequentes, tentando descobrir a magnitude das lesões, o quanto elas influenciam a performance do tenista e quais estratégias de recuperação podem minimizar os problemas detectados”, afirmou o pesquisador.
O grupo também pretende aprofundar os estudos sobre a distribuição da carga de treinamento, a fim de testar e comparar diferentes modelos. Um primeiro passo nesse sentido foi a organização dos dados coletados nos questionários da PSE, durante a pré-temporada de cinco semanas, em três zonas: respostas de 1 a 4 (intensidade baixa), de 4 a 7 (intensidade moderada) e de 7 a 10 (intensidade alta).
“Conferimos quantas sessões os atletas ficaram em cada zona ao longo do período. Constatamos que, em geral, a maior parte das sessões de treinamento – 90% delas – é realizada em intensidade baixa e moderada – diferentemente do que ocorre nas competições oficiais”, disse Saldanha.
Além dos artigos, os estudos renderam apresentações nos congressos do European College of Sport Science de 2012 e 2013.
“Atualmente, nosso grupo também investiga métodos para monitorar e quantificar a carga de treinamento em outras modalidades, como basquete, judô e tiro com arco”, contou Saldanha. São parceiros desses estudos os professores Alexandre Moreira, da Escola de Educação Física e Esportes (EEFE), da USP, Aaron James Coutts, da University of Technology Sydney, e Kazunori Nosaka, da Edith Cowan University, ambas na Austrália.
Os resultados dessas investigações são parte da tese de doutoramento de Rodrigo Vitasovic Gomes, atualmente pós-graduando da EEFE/USP, orientado por Saldanha.
Agência FAPESP