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BionergiaUm grupo de pesquisadores do Brasil, dos Estados Unidos e da Holanda, além de representantes de instituições voltadas ao desenvolvimento socioeconômico do continente africano, vai se reunir, entre 1 e 5 de abril, na África do Sul e em Moçambique para discutir o potencial de produção de etanol de cana-de-açúcar nas duas nações africanas, durante o evento Bioenergy in Africa Workshop.
O encontro faz parte das atividades do Projeto Temático “Contribuição de produção de bioenergia pela América Latina, Caribe e África ao projeto GSB-Lacaf-Cana-I”, desenvolvido por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).

O projeto é realizado em colaboração. Do lado brasileiro, participam pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), com o Centro de Energia Nuclear na Agricultura (Cena) da Universidade de São Paulo (USP), o Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), o Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), o Centro Nacional de Referência em Biomassa (Cenbio) e a empresa de consultoria Agroicone.

Também integram o projeto pesquisadores do Dartmouth College, da Penn State University, da University of Minnesota e do Oak Ridge National Laboratory, todos dos Estados Unidos, além do Imperial College London, do Reino Unido, da Stelllenbosch University, da África do Sul, e da Universidade Técnica de Moçambique.

Iniciado em 2013, o Bioenergy Contribution of Latin America & Caribbean and Africa to the Global Sustainable Bioenergy Project (Lacaf-Cana) tem o objetivo de analisar as possibilidades de produção de etanol de cana-de-açúcar na Colômbia, na Guatemala, em Moçambique e na África do Sul.

A iniciativa representa um contribuição brasileira ao projeto Global Sustainable Bionergy (GSB), iniciado em 2009 por um grupo de cientistas, engenheiros, agências governamentais e representantes do setor industrial, com a meta de incentivar o desenvolvimento sustentável dos biocombustíveis e analisar a possibilidade de substituir 25% da energia usada hoje no planeta por bioenergia.

“Nos encontros, na África do Sul e em Moçambique, discutiremos questões relacionadas a um estudo que iniciamos para determinar o potencial de produção de etanol de cana-de-açúcar nesses dois países, especificamente”, disse Luís Augusto Barbosa Cortez, professor da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) e pesquisador do Núcleo Interdisciplinar de Planejamento Energético (Nipe) da Unicamp, à Agência FAPESP.

De acordo com Cortez, durante o estudo será realizado um diagnóstico da produção de biomassa na África do Sul e em Moçambique e da situação energética dos dois países africanos, detalhando as restrições em termos de uso da terra para a produção de bioenergia.

Também será avaliado o modelo de produção de etanol de cana-de-açúcar que poderá ser adotado pelos dois países – se em pequena ou larga escala, por exemplo.

“O estudo está em um estágio preliminar. Estamos na fase de coleta de informações e formação de equipes de pesquisadores para avançarmos no diagnóstico dos problemas”, afirmou Cortez, que é membro do comitê executivo do GSB e coordenador adjunto de Programas Especiais da FAPESP.

Potencial de produção

Segundo Cortez, a produção de bioenergia na África do Sul e em Moçambique ainda é muito pequena. A África do Sul, no entanto, já é a maior produtora de cana do continente africano, voltada em sua maior parte para a produção de açúcar e com volume equivalente ao produzido pelo Nordeste brasileiro – de, aproximadamente, 20 milhões de toneladas por ano.

Moçambique, por sua vez, produz atualmente 3,6 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, em uma área plantada de 47,4 mil hectares, e tem grande potencial para expandir o cultivo para a produção de etanol.

O problema, no entanto, é que, no caso da África do Sul, o país não possui deficiência energética, uma vez que exporta energia, proveniente especialmente do carvão, sua maior matriz energética. “A produção de etanol de cana-de-açúcar na África do Sul deverá ser feita mais como um subproduto do açúcar”, estimou Cortez.

Já Moçambique desfruta de uma situação energética menos favorável do que a África do Sul e depende de energia importada. O país, contudo, ainda precisa solucionar questões fundiárias e de zoneamento agrícola que têm impactos na expansão da produção da cana, afirmou Cortez.

“A produção de cana não depende apenas das condições físicas e climáticas do país, mas também de um bom ambiente político e institucional”, avaliou Cortez. “Estamos analisando essas questões no estudo”, afirmou.

Na avaliação do pesquisador, os dois países compartilham uma condição fundamental para a produção de biocombustíveis: possuem grande disponibilidade de terra fértil e condições climáticas propícias.

“Produzir biocombustíveis é também uma atividade para países que possuem muita extensão de terra”, afirmou. “Para os com pouca disponibilidade de terra, o ideal é se dedicar à produção de produtos agrícolas que não são commodities, como é a cana-de-açúçar.”

De acordo com estimativas internacionais, o mundo possui hoje cerca de 440 milhões de hectares de terra para uso agrícola ainda disponíveis, dos quais aproximadamente 60% estão localizados na América Latina – sendo 150 milhões de hectares no Brasil. Os 40% restantes estão na África.

“Nas outras regiões não existem muitas áreas disponíveis para aumentar a fronteira agrícola. O que sobra são área desérticas ou montanhosas”, comparou Cortez.

Mais informações sobre o GSB Project: 208.67.2.44/gsb/index.html.

*Com Samuel Antenor

Agência FAPESP