Estudo feito com 1.021 pacientes do Ambulatório de Cessação do Tabagismo do Hospital São Lucas da PUCRS reforça a noção mais recente de que usar o tabaco como automedicação (ansiolítico e antidepressivo) talvez seja um mito. "Passada a turbulência inicial dos primeiros dias ou semanas logo após a cessação do tabagismo, o que se detectou é que o ex-fumante se torna mais feliz do que o que permanece fumando. O uso não frequente até melhora o humor, mas a longo prazo leva à depressão", afirma Chatkin, coordenador do estudo.
Em um escore que mede o grau de depressão, o grupo de fumantes, em média, atinge 50% mais pontos do que quem nunca fumou ou largou o cigarro. Não houve diferenças significativas entre homens e mulheres. Mesmo mais suscetíveis à depressão, elas se recuperam da mesma forma que eles.
Os resultados são importantes para orientar os especialistas na conduta com os pacientes que querem deixar de fumar. "Alertamos sobre os benefícios emocionais da abstinência em longo prazo, ao invés de valorizarmos a ideia de que o cigarro funciona como antidepressivo, pois, em verdade, trata-se de um forte agente depressor do humor", explica o médico. As dificuldades iniciais ao deixar o cigarro se relacionam à síndrome de abstinência, semelhante à que ocorre com qualquer usuário de álcool, crack, cocaína e outras drogas. "Nessa fase do processo de cessação, os sintomas podem ser perda de interesse por suas atividades, cansaço, falta de apetite e sentimento de inutilidade, sudorese, palpitações e insônia, que são variáveis em intensidade de paciente a paciente", diz. Entre os estudados no São Lucas, os casos de depressão de maior intensidade foram mais frequentes entre os que fumavam mais cigarros por dia, por mais anos e os que tinham maior dependência à nicotina.
Chatkin admite que existe dúvida se a melhora no humor com a passagem do tempo e êxito na cessação do tabagismo se deva ao fato de a pessoa se sentir vitoriosa por ter vencido a batalha contra o fumo. "Também pode ser que o cérebro esteja funcionando melhor, com eventual liberação de substâncias que tenham essa ação". O estudo, que fez parte da tese de doutorado da bióloga Vanessa dos Santos, foi publicado no British Journal of Psychiatry e apresentado, por convite, na International Conference on Drug Abuse, nos EUA. O grupo fará agora pesquisa longitudinal, com acompanhamento de pacientes antes e depois de deixarem o cigarro. A anterior comparava ex-fumantes com fumantes atuais, quando outros fatores podem comprometer os resultados.