O projeto é desenvolvido pelo bioquímico Guilherme A. P. de Oliveira, que integra a equipe coordenada pelo diretor científico da FAPERJ, Jerson Lima Silva, que também está à frente do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) de Biologia Estrutural e Bioimagem (Inbeb).
Contemplado pela Fundação com o programa de Apoio ao Pós-Doutorado no Estado do Rio de Janeiro (PAPD-RJ), o projeto resultou em um artigo científico que ganhou destaque recentemente no site do prestigiado periódico americano Journal of Biological Chemistry (http://www.jbc.org/content/early/2013/08/08/jbc.M113.500926.abstract), como “Paper of the week”, e será publicado na capa da edição impressa de outubro.
No Laboratório de Termodinâmica de Proteínas e Estruturas Virais, os pesquisadores observaram o comportamento bioquímico da proteína c-Abl e sua relação com o surgimento da leucemia mieloide crônica. Quando as células estão saudáveis, a c-Abl costuma migrar para a membrana celular, onde se ancora. Um pequeno trecho localizado no início da proteína é responsável por essa fixação em regiões específicas da membrana. Em outras palavras, em condições normais, essa proteína é importante no processo de morte natural das células, que são programadas para se destruírem, no processo conhecido por apoptose, quando ela migra para a membrana celular.
No entanto, os professores do IBqM/UFRJ perceberam outro comportamento para essa mesma proteína no caso das células cancerosas: elas não morrem e continuam a se multiplicar sem parar. “No caso das células cancerosas, a proteína c-Abl perde um segmento. Por isso, ela não consegue migrar e perde sua capacidade de se ancorar na membrana. A perda de um trecho da proteína impede que ela mude sua localização no interior da célula, que, assim, não consegue morrer naturalmente”, explicou Oliveira. Nesse contexto, a célula começa a se multiplicar de forma descontrolada e se torna maligna, levando ao surgimento da leucemia.
O diferencial do trabalho da equipe está na investigação dessa relação ainda pouco conhecida pelos cientistas entre a localização da proteína c-Abl no interior celular e o surgimento da leucemia, por métodos da biologia molecular e estrutural. Para Jerson Lima Silva, o projeto aponta uma nova fronteira de pesquisa que, no futuro, pode resultar na produção de fármacos para o tratamento e a prevenção da leucemia, e talvez de outros tipos de câncer. “Uma das drogas mais eficientes para o combate à leucemia atualmente é o imatinibe, mas durante seu uso o organismo passa a apresentar resistência, o que inibe o efeito do tratamento”, explicou. E foi além: “É importante buscar novos alvos, com base no comportamento bioquímico das moléculas, como é o caso da observação da dinâmica dessa proteína que estudamos”, destacou.
Para os cientistas, investigar melhor esse mecanismo molecular é o início de um longo trabalho. Chegar a uma nova terapia contra a leucemia, com base nesse conhecimento, é um processo demorado, mas que pode ser a chave para apontar soluções mais eficazes para a doença no futuro. Além de Guilherme Oliveira e de Jerson Lima Silva, participam da equipe empenhada na pesquisa a Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ, Ana Paula Valente, do Centro Nacional de Ressonância Magnética Nuclear da UFRJ; Yraima Cordeiro, professora da Faculdade de Farmácia e Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ; Giulia Diniz da Silva, bolsista de Iniciação Científica e estudante de Farmácia da UFRJ; e Elen Pereira, doutoranda em biologia estrutural da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).
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Biomarcadores: avanço no diagnóstico e prognóstico de doenças hematológicas (http://www.faperj.br/interna.phtml?obj_id=8882)
Assessoria de Comunicação FAPERJ