O equipamento, adquirido com apoio da FAPESP, é semelhante ao ultrassom. Em vez de ondas sonoras, porém, emite um laser de baixa frequência – cerca de 1,3 mil nanômetros – capaz de produzir uma imagem tridimensional com alta resolução.
“Isso nos permite realizar análises semelhantes às do exame histopatológico, feito com tecido obtido por meio da biópsia e, atualmente, considerado padrão ouro no diagnóstico do câncer de pele”, contou a dermatologista Gisele Gargantini Rezze, que coordena os experimentos em parceria com a patologista Maria Dirlei Begnami.
Segundo Rezze, há outros métodos de imagem auxiliares no diagnóstico do câncer de pele, como a dermatoscopia – uma espécie de lupa digital capaz de aumentar em média 20 vezes a lesão e muito usada na rotina dos consultórios dermatológicos.
Há ainda a microscopia confocal, equipamento experimental também adquirido pelo A.C. Camargo Cancer Center com auxílio da FAPESP, que usa um laser de 850 nanômetros para aumentar em até 900 vezes a lesão.
“A resolução da microscopia confocal é até maior que a da tomografia de coerência óptica, mas o equipamento tem uma grande limitação: não dá a noção da profundidade da lesão”, explicou Rezze.
A OCT oferece ainda outras vantagens, contou a pesquisadora. O exame dura apenas dois minutos e produz imagens em tempo real e em cortes transversais, com até 2,5 milímetros (mm) de profundidade – o que equivale à parte mais profunda da derme. Já a avaliação com microscopia confocal é mais trabalhosa, leva cerca de 40 minutos para ser concluída e gera apenas imagens em cortes horizontais, alcançando no máximo 1,5 mm de profundidade.
“Às vezes a epiderme – parte mais superficial da pele – está normal e o tumor está na derme. Nos casos de reicidiva, por exemplo, é comum o tumor reaparecer embaixo da cicatriz da primeira cirurgia. Nessas situações, a tomografia de coerência óptica pode avaliar melhor e ajudar o médico a programar a cirurgia, pois oferece informações sobre a localização exata do tumor e de suas margens”, disse Rezze.
O exame, contudo, não é para todos os pacientes, alertou a pesquisadora. Por ser um equipamento caro – em torno de R$ 130 mil –, é indicado principalmente na avaliação das chamadas lesões duvidosas, casos em que os médicos não conseguem confirmar a malignidade por meio das demais técnicas de diagnóstico por imagem.
“Acredito que a grande vantagem da tecnologia será a redução das cirurgias desnecessárias. E isso representa economia de tempo e de dinheiro para pacientes e centros de saúde”, avaliou Rezze.
Novos parâmetros
Antes de ser incorporado à rotina médica, no entanto, o equipamento precisa ser mais bem estudado e compreendido. Além disso, sua acurácia diagnóstica precisa ser validada. Um dos objetivos da pesquisa coordenada por Rezze é estabelecer parâmetros que ajudem os médicos a interpretar as imagens geradas pela OCT.
“Precisamos aprender a ler os resultados e a diferenciar um melanoma de uma pinta normal, por exemplo. Por isso vamos descrever os achados de diferentes tipos de lesão em diferentes regiões anatômicas e compará-los com os achados de exames histopatológicos e da dermatoscopia”, contou Rezze.
De acordo com a pesquisadora, cerca de 15 centros em todo o mundo estudam atualmente o diagnóstico do câncer de pele por meio da OCT. A tecnologia também já é usada na avaliação de distúrbios oftalmológicos.
Agência FAPESP