Submit to FacebookSubmit to Google PlusSubmit to TwitterSubmit to LinkedIn
Um intenso clarão solar foi detectado, pela primeira vez, na faixa de frequências do infravermelho médio e distante. A descoberta foi noticiada pela edição on-line do Astrophysical Journal de 24 de abril de 2013, com a versão impressa programada para 10 de maio. O fenômeno, ocorrido na frequência de 30 tera-hertz (30 trilhões de Hertz ou 30x1012 Hz), na banda do espectro eletromagnético situada entre o rádio e a luz visível, foi detectado por um novo sistema em operação no observatório de El Leoncito, nos Andes Argentinos, no dia 13 de março de 2012.
Foi mantido em sigilo até a divulgação em primeira mão pelo prestigioso periódico científico.

A pesquisa faz parte do Projeto Temático “Emissões da atividade solar do submilimétrico ao infravermelho (SIRA)”, apoiado pela FAPESP e liderado pelo Centro de Radioastronomia e Astrofísica Mackenzie (CRAAM), da Universidade Presbiteriana Mackenzie, com colaborações do Centro de Componentes Semicondutores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), do Complejo Astronomico El Leoncito, da Argentina, e do Observatório Solar Bernard Lyot, de Campinas.

Imagem do disco do Sol no infravermelho distante“A faixa de frequências do tera-hertz é a derradeira fronteira inexplorada no estudo de explosões solares. E esta descoberta, absolutamente inesperada e surpreendente, poderá inaugurar uma nova fase nas pesquisas do sol”, disse o coordenador do projeto, Pierre Kaufmann, do CRAAM, à Agência FAPESP.

Kaufmann tem se dedicado intensamente ao estudo das emissões solares em tera-hertz, particularmente com o experimento Solar-T, por ele liderado e também apoiado pela FAPESP no âmbito do mesmo Projeto Temático. Mas, enquanto o equipamento do Solar-T, que será enviado em voos de longa duração a bordo de balões estratosféricos, destina-se a observar explosões solares em 3 THz e 7 THz, o clarão agora noticiado ocorreu em frequência 10 vezes maior, em uma “janela” com pouca absorção, e, por isso, pode ser observado desde o solo, em El Leoncito, apesar da espessa barreira que a atmosfera terrestre interpõe à radiação tera-hertz.

“O intenso brilho detectado em infravermelho apresentou notável coincidência, no espaço e no tempo, com outras emissões, observadas, no solo ou por satélites, em rádio, luz branca, ultravioleta e raios X duros”, informou Kaufmann. A conclusão é que todas essas radiações foram provocadas por um mesmo fenômeno, altamente energético.

“Nossa principal hipótese é que essas emissões resultem da aceleração de partículas a elevadas energias no campos magnéticos das manchas solares. Mas, além do mecanismo de aceleração das partículas ser ainda ignorado, também não sabemos em que região do sol ele ocorre, se na superfície ou na atmosfera solar”, disse.

Manchas solares

Grosso modo, os modelos atuais acerca da estrutura do sol reconhecem quatro grandes regiões: o núcleo, onde ocorrem as reações termonucleares responsáveis pela energia solar; a zona convectiva, palco dos gigantescos movimentos de convecção que transportam a energia do núcleo à superfície; a superfície ou fotosfera; e a atmosfera, constituída por uma fina camada de transição, denominada de cromosfera, e pela coroa, que se estende pelo espaço. A atmosfera é composta por plasmas, gases ionizados muito quentes, permeados por campos magnéticos originados nas manchas solares.

As explosões que ocorrem nestas estruturas de plasma magnetizado são, supostamente, fenômenos originados na superfície ou acima dela, na cromosfera e coroa. Mas a causa dessas explosões ainda é desconhecida e sua interpretação constitui um dos grandes desafios da física contemporânea.

“Muito embora sejam bem descritas e explicadas as diversas e espetaculares manifestações das explosões, com emissões que vão do rádio aos raios gama, os processos físicos que as originam permanecem misteriosos”, comentou Kaufmann.

O Projeto Temático por ele coordenado, que, além do apoio da FAPESP, recebe subsídios complementares do CNPq, do Mackpesquisa, do Conicet da Argentina, do Laboratório de Pesquisas da Força Aérea dos Estados Unidos e da Nasa, tem exatamente por objetivo entender esses processos explosivos. E a descoberta agora revelada pode representar um passo importantíssimo nesse sentido, pois abre uma nova “janela”, em torno dos 30 THZ, para obtenção de dados sem precedentes.

O artigo A bright impulsive solar burst detected at 30 THz (doi:10.1088/0004-637X/768/2/134) pode ser lido em http://iopscience.iop.org/0004-637X/768/2/134.

Agência FAPESP