Marcos Silveira Buckeridge, professor do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, salientou na conferência Perspectivas para a pesquisa sobre o bioetanol no Brasil os principais avanços obtidos em experimentos com genes capazes de aumentar a produção de biomassa de plantas como milho, arroz, sorgo, miscanto e beterraba açucareira.
Com apoio de dados agrícolas sobre o ciclo dessas culturas, rendimento e saldo de energia, Buckeridge e equipe no Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol – um dos INCTs estabelecidos no Estado de São Paulo em parceria do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) com a FAPESP – criaram um índice para avaliação do desempenho de cada uma delas na produção de bioenergia, o Crop Bioenergy Performance Index (CBPI).
Segundo o pesquisador, o CBPI pode oferecer informações estratégicas sobre os caminhos que o Brasil poderá seguir. “Cana, sorgo e milho podem ser plantados e são boas soluções para o Brasil”, disse.
“Já obtivemos bons resultados em uma série de experimentos que realizamos com um conjunto de genes para a segunda geração do etanol”, disse Buckeridge. Analisamos ciclos de três meses de produção e sabemos como fazer mudanças para melhorar o processo pelo qual a planta transforma energia luminosa em biomassa usando genes, que já identificamos, com essa capacidade”, explicou.
O próximo passo é realizar o processo inverso para melhorar a produção de biomassa a partir dos resultados do sequenciamento genético da cana-de-açúcar, em andamento no âmbito do Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN).
De acordo com Buckeridge, essa etapa contará com informações do genoma da cana-de-açúcar, tentando localizar nos chamados “cromossomos gigantes” da planta, já sequenciados, os genes que usa em seus experimentos.
Os pesquisadores concluíram a identificação dos genes da cana envolvidos na quebra da parede celular da planta, processo importante para a obtenção de etanol celulósico, e usarão a mesma abordagem para lidar com o aumento da resistência da planta ao estresse hídrico.
“Essa superplanta, uma cana muito mais produtiva que poderá ser desenvolvida no âmbito do Programa BIOEN-FAPESP, poderá conter a expansão de canaviais, abrindo espaço para o plantio e recuperação de florestas localizadas a até 2 quilômetros de canaviais, um parâmetro arbitrado pelo projeto, que pode ser eventualmente alterado”, disse.
Dessa forma, o balanço negativo entre a capacidade de assimilação de dióxido de carbono (CO2) pela cana (7,4 toneladas/hectares/ano) e a de armazenamento de carbono dessas florestas (8,2 t/ha/ano) poderia ser neutralizado pela recuperação ou plantio de cerca de 800 hectares de florestas próximas a canaviais.
Os dados foram obtidos do projeto CanaSat (que utiliza técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento para mapear a área cultivada e fornecer informações sobre a distribuição espacial da cultura de cana-de-açúcar), em colaboração com o pesquisador Bernardo Rudorff, do Instituto Nacional de Pesquisas Especiais (Inpe).
Agência FAPESP