Com isso, não apenas se passa a contar com mais uma forma de diagnóstico eficaz, como se torna possível definir o prognóstico para a doença e traçar o tratamento mais adequado.
Para entender as alterações que levam ao desenvolvimento da SMD e sua possível evolução para uma leucemia mieloide aguda, os pesquisadores analisaram as células da medula óssea em pacientes pediátricos e adultos. “Nesse sentido, nosso estudo foi pioneiro. Verificamos, numa análise estatística, o impacto que as possíveis alterações citomoleculares encontradas teriam tanto para o diagnóstico quanto para o prognóstico desses pacientes”, conta Teresa, que é Jovem Cientista do Nosso Estado, da FAPERJ. Segundo a pesquisadora, nos pacientes pediátricos, a doença é mais rara, mas, quando ocorre, é também em sua forma mais agressiva. Nos pacientes adultos, em geral pessoas acima dos 50 anos, o curso da doença pode ser mais brando.
“A SMD se caracteriza por um processo ineficaz de formação de células sanguíneas – hematopoese – ainda no interior da medula óssea", explica Teresa. Com alterações morfológicas e funcionais, essas células acabam passando por um processo de morte celular. Com isso, aparecem as anemias, neutropenias, ou seja, a redução de neutrófilos – glóbulos brancos responsáveis pela resposta a infecções –, e de plaquetas, com suas consequentes infecções e sangramentos. Nos estágios mais avançados da doença, essas células, que já acumularam um número expressivo de alterações, conseguem escapar do programa de morte celular, fazendo com que o quadro evolua para uma leucemia mieloide aguda. A doença, em geral, é de difícil diagnóstico, daí a importância de se buscar formas de conseguir detectá-la, principalmente em seus estágios iniciais.
“Ao buscar identificar marcadores que nos ajudassem a caracterizar a SMD, focamos no p15 e p16, devido ao importante papel desses genes no controle do ciclo celular. E constatamos que alterações no controle de sua expressão – quando, por algum motivo, eles não são expressos, perdem sua função de supressores de tumor – nas células da medula óssea, além de indicarem a doença, também estão associadas a seu prognóstico: quanto maior o número de células alteradas, pior será a evolução do quadro”, informa a pesquisadora. “Portanto, detectar a presença desses biomarcadores não só sinaliza a doença como permite auxiliar na escolha do tipo de tratamento.”
Ao se constatar precocemente um caso em que aparecem biomarcadores de evolução mais agressiva, isso pode indicar o paciente para um transplante, que atualmente é a única opção terapêutica que pode levar à cura. Nesse caso, porém, há necessidade de doadores compatíveis. Outra alternativa de tratamento, mais recente, tem sido a utilização de medicamentos chamados de inibidores de metiltransferase. “Esses fármacos atuam fazendo com que genes, como p15 e p16, reativem sua atuação de supressão de tumores. E os resultados iniciais demonstraram que pacientes adultos de SMD de alto risco tiveram significativo aumento de tempo de sobrevida”, explica.
O trabalho da equipe também foi considerado como um avanço, já que durante a pesquisa o grupo estabeleceu uma padronização metodológica de análises qualitativa e quantitativa. “Procuramos identificar, de forma quantitativa as alterações epigenéticas – que levam ao silenciamento do gene em suas funções – em células de medula óssea dos pacientes, comparando-as com amostras de voluntários saudáveis, que são os doadores para o transplante”, explica. Tudo isso levou a publicação de vários artigos em revistas científicas e à apresentação dos resultados do trabalho em congressos, como o da Associação Europeia de Pesquisa do Câncer, em 2012, em Barcelona, e em uma das reuniões da Academia Brasileira de Ciências (ABC). O grupo acabou convidado a publicar um capítulo no livro Biomarker, publicado pela editora científica internacional Intech.
Nos próximos passos do grupo coordenado por Teresa, uma das vertentes é buscar identificar os marcadores que poderiam ser considerados como os responsáveis pela SMD. “No caso da leucemia mieloide crônica, uma das doenças hematológicas mais estudadas a nível molecular, pesquisadores já conseguiram detectar os genes envolvidos, tornando-se possível, a partir daí, determinar uma droga específica para tratamento.” Segundo a pesquisadora, a equipe continua estudando as alterações genéticas, epigenéticas e o microambiente da medula para detectar as condições propícias para a formação da mielodisplasia e também procurando analisar os diferentes marcadores para chegar àqueles que sejam considerados como a origem da SMD. “Assim, também poderíamos tentar caracterizar uma terapia molecular para a doença. Mas tudo isso significa que ainda estamos diante de muitos anos de estudos”, resume.
Para o desenvolvimento de seus projetos de pesquisa, Teresa conta com o apoio e incentivo de Eliana Abdelhay, chefe da Divisão de Laboratórios do Cemo; e de Luis Fernando Bouzas, diretor do Cemo. A equipe coordenada pela pesquisadora é formada pelos professores colaboradores Cecília de Souza Fernandez, da Universidade Federal Fluminense (UFF); André Luís Mencalha e Cíntia Barros Santos-Rebouças, ambos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); as alunas de doutorado Eliane Ferreira, da Uerj, e Daiane de Souza e Gabriela Bonis, do Inca; Tatiana Fonseca Alvarenga, de aperfeiçoamento científico; e Filipe Leal Portilho, bolsista de iniciação científica, da FAPERJ, além de hematologistas de diferentes instituições do Rio de Janeiro.
FAPERJ Assessoria de Imprensa