Submit to FacebookSubmit to Google PlusSubmit to TwitterSubmit to LinkedIn
O câncer de mama é um dos tumores mais heterogêneos em relação às suas características fisiológica, celular e molecular. O tumor é constituído pelo componente epitelial maligno e pelo estroma, que compreende a matriz extracelular e células mesenquimais adjacentes, incluindo principalmente os fibroblastos, que compõem de 20% a 80% da massa tumoral.
Evidências na literatura científica mostram que células estromais associadas ao tumor podem influenciar o comportamento do câncer, daí a estratégia do grupo de pesquisadores de colocar o estroma como alvo.

A pesquisa sobre a anatomia molecular do estroma – associada ao câncer de mama e seus aspectos funcionais e resposta à droga – é o objetivo de um Projeto Temático financiado pela FAPESP.

De acordo com a professora Mitzi Brentani, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), que coordena a pesquisa, a importância de colocar o estroma como alvo se deve ao fato de esse ser um elemento importante não somente no processo de invasão tumoral, como também para a metástase (formação de uma nova lesão tumoral a partir de outra).

O Temático, iniciado há três anos, envolve pesquisadores do Departamento de Radiologia da FMUSP, do Hospital A.C. Camargo, do Hospital do Câncer de Barretos, do Instituto Brasileiro de Controle do Câncer e do Hospital Pérola Byington e poderá vir a ter impacto clínico no tratamento do câncer de mama pela identificação da contribuição dos genes estromais com sensibilidade a drogas.

Os pesquisadores verificaram inicialmente que os fibroblastos apresentam perfil gênico diferente dos fibroblastos encontrados em mama normal, obtidos de pacientes que realizaram a mamoplastia por motivos estéticos. Também confirmaram que uma das suas características é a expressão da proteína S100A4 relacionada à metástase.

Em função disso, o grupo estudou primeiramente a diferença da expressão gênica por sequenciamento entre fibroblastos – obtidos de diferentes subtipos dos tumores de mama.

Os pesquisadores tentam responder a uma pergunta fundamental: quais são as mudanças que ocorrem paralelamente nesses fibroblastos com a perda da sensibilidade hormonal nas células epiteliais tumorais correspondentes. A pesquisa continua com a determinação dos microRNAs desses fibroblastos.

“Existem vários trabalhos publicados sobre a ação antiproliferativa e anti-inflamatória da vitamina D na célula epitelial do câncer de mama. Por isso, nos interessamos pelo tratamento de fibroblastos com vitamina D, já que observamos que esses são peças-chave no desenvolvimento do tumor”, disse Mitzi Brentani à Agência FAPESP. “Verificamos que nos fibroblastos a vitamina D tem uma ação anti-inflamatória.”

O grupo também averiguou a ação da rapamicina como inibidor da via pAKT/TOR, via de proliferação muito comum nesse tipo de tumor.

“Devido à heterogeneidade do tumor, composto por células epiteliais transformadas e estroma, um dos nossos objetivos foi verificar se agentes quimioterápicos, cuja finalidade é diminuir o número de células epiteliais, também poderiam agir sobre o estroma”, disse Mitzi Brentani.

Terapia neoadjuvante

Em um projeto anterior, também financiado pela FAPESP, o grupo de pesquisadores identificou padrões de expressão gênica em células epiteliais tumorais que permitiram classificar tumores de acordo com a resposta à quimioterapia.

A partir daí, com o objetivo de testar a hipótese de que quimioterápicos podem agir sobre o estroma, os pesquisadores realizaram uma terapia neoadjuvante – feita antes da cirurgia com a função de reduzir a dimensão tumoral e permitir a ressecção dos tumores –, utilizando quimioterápicos.

Os quimioterápicos empregados foram doxorubicina, ciclofosfamida e paclitaxel, que são agentes inibidores tumorais comprovados. O objetivo foi buscar correlacionar a resposta ao tratamento com as análises do perfil gênico dos fibroblastos.

Mitzi Brentani aponta que esse subprojeto, que inclui aproximadamente 70 pacientes advindos do Hospital de Câncer de Barretos, poderá levar à identificação de novos alvos teraupêuticos e contribuir para o estabelecimento de uma quimioterapia personalizada baseada em fatores preditivos de resposta.

A pesquisadora apresentou o trabalho no 6º Simpósio de Oncobiologia, realizado pelo Instituto de Bioquímica Médica da Universidade Federal do Rio de Janeiro no fim de setembro.

Agência FAPESP