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Em diversas regiões do Brasil treinadores de futebol estão abandonando suas velhas pranchetas para adotar uma alternativa mais eficiente em suas preleções: um software que permite trabalhar a preparação tática do time, estudar decisões estratégicas, realizar simulações e analisar jogadas a partir de imagens de vídeo.
A prancheta eletrônica para tablet, denominada Tactical Pad, foi desenvolvida e colocada no mercado pela ClanSoft, empresa spin off formada em 2009 pelos engenheiros da computação Pedro Henrique Borges de Almeida, Danilo Lacerda e Fernando Closs, todos ex-estudantes do Instituto de Computação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

O projeto "Pesquisa e desenvolvimento de uma aplicação de apoio a esportes coletivos utilizando tablet PC" teve apoio do Programa FAPESP Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas (PIPE).

De acordo com Almeida, o software, cuja versão atual é comercializada desde março de 2010, é utilizado por treinadores da maior parte das agremiações do interior de São Paulo – em especial nas categorias de base, mas também em alguns times profissionais, como o da Ponte Preta, de Campinas –, além de clubes como o Internacional (RS), o Bahia (BA) e o Figueirense (SC). O Tactical Pad também é usado pela seleção sub-21 de Portugal e pela seleção principal da Coreia do Sul.

Segundo Almeida, a ferramenta já foi testada por membros da comissão técnica dos times profissionais de Palmeiras e Corinthians e a partir de agora será adotada por todas as seleções de base da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Em 2009, Almeida fazia um mestrado em Ciência da Computação na Unicamp, sobre o uso de tablets para aplicações educacionais, quando Closs – que trabalhava com Lacerda no Instituto Venturus de Inovação Tecnológica – sugeriu que os três se unissem para desenvolver uma prancheta eletrônica. O trio passou a estudar o mercado e avaliar o nível de maturidade dos softwares já existentes para a mesma finalidade.

“Logo percebemos que os treinadores brasileiros não adotavam esse tipo de solução tecnológica. Conversando com alguns deles, percebemos a razão para essa rejeição: os softwares disponíveis eram difíceis de manusear, com interface confusa e funcionalidades incompletas. Notamos também que o uso de mouse e teclado inviabilizavam o uso nas preleções e as soluções gráficas eram, em geral, muito amadoras e pouco atraentes”, disse Almeida à Agência FAPESP.

A concepção do produto contou com a colaboração de profissionais de diferentes comissões técnicas, que mais tarde se tornaram usuários da ferramenta. Durante o desenvolvimento, o principal colaborador foi o ex-coordenador das categorias de base do Palmeiras Marcos Biasotto, que atua hoje no Grêmio (RS).

“Trabalhamos intensamente junto às categorias de base do Palmeiras. Como a usabilidade dos softwares existentes era uma das principais dificuldades que detectamos, vimos que era fundamental consultar os profissionais para quem o produto seria realmente útil. Com isso, pudemos criar as funcionalidades com características alinhadas às expectativas do usuário”, disse Almeida.

Os pesquisadores perceberam que, para ser utilizado, o software precisaria ser de manuseio extremamente simples. Segundo Almeida, mesmo profissionais da área esportiva com intimidade com computadores desistem de usar esse tipo de software se for preciso gastar muito tempo para fazer uma simulação.

“Também percebemos que muitos dos softwares existentes não davam importância à qualidade gráfica. O aspecto visual é muito importante e uma boa representação gráfica da jogada dá um estímulo cognitivo fundamental para que o atleta assimile o que está sendo pedido a ele”, disse.

Jogadores e jornalistas

O Tactical Pad, que roda em dispositivos com Windows, Android ou iOS (iPad), pode ser utilizado de duas formas. Uma delas é a montagem do posicionamento tático da equipe, como se fosse uma prancheta virtual – com personalização de todos os elementos, como cores dos uniformes e nomes dos jogadores, e possibilidade de visualização 3D. A outra é a análise a partir de imagens de vídeo.

“O software possibilita funcionalidades simples de edição. Depois de filmar jogadas de seu próprio time ou do time adversário, o treinador pode escolher cenas de cobranças de falta, por exemplo, para fazer a análise do posicionamento”, disse Almeida.

“O treinador pode fazer anotações sobre o próprio vídeo, a mão livre, destacando os pontos mais importantes de uma jogada. Pode também utilizar um modo especial de projeção no qual somente o conteúdo de interesse é mostrado no projetor”, explicou.

Durante a Copa São Paulo de 2010 – o principal torneio de categorias de bases de clubes do Brasil – os engenheiros da ClanSoft acompanharam o uso do software em preleções com os atletas. O programa ajudou o time facilitando, por exemplo, as correções de falhas de posicionamento defensivo em jogadas de bola parada.

De acordo com Almeida, a base do Palmeiras possuía equipamentos como projetores e notebooks, mas eles nã eram utilizados porque os profissionais não tinham afinidade com as ferramentas. A principal dificuldade era a edição de vídeos. Apesar dos recursos, utilizavam em suas preleções prancheta sobre cavaletes, com anotações a mão. "Além de dificultar a compreensão dos jogadores, a comunicação se tornava enfadonha. O treinador nos dizia que os jovens atletas costumam ficar dispersos se a preleção chegar a 20 minutos. Mas, quando utilizamos o software, a participação deles foi intensa, mesmo após 40 minutos de análise de jogadas”, disse Almeida.

O software vem sendo utilizado não apenas por treinadores, mas também por jornalistas esportivos. Jornalistas como Mauro Beting, comentarista esportivo da Rádio Bandeirantes e colunista do Lance Net!, e André Rocha, responsável pelo blog Olho Tático, do GloboEsporte.com, utilizam o Tactical Pad para fazer análises táticas.

Se a fase 1 do projeto PIPE foi dedicada ao desenvolvimento da prancheta eletrônica, os pesquisadores da ClanSoft agora estão trabalhando na fase 2, já aprovada pela FAPESP, para transformar o software em uma ferramenta de auxílio à gestão técnica das categorias de base dos times.

“Em uma categoria de base de um grande clube, eventualmente há mais de 400 atletas. Estamos desenvolvendo um sistema capaz de acompanhar o treinamento de cada um deles, integrando à parte tática as estatísticas e os dados relacionados a lesões, suspensões e alimentação, por exemplo. Tudo isso será compartilhado com a comissão técnica”, disse Almeida.

Outra funcionalidade da fase 2 do projeto será a integração da prancheta eletrônica a redes sociais na internet. “Muitas vezes o treinador ou alguém da comissão técnica não está presente, mas poderá ter acesso aos dados relacionados à parte técnica do time”, afirmou.

Além do futebol, o Tactical Pad tem versões para basquete, futsal e handebol. “Por enquanto, a aplicação mais forte tem sido mesmo no futebol de campo. Vamos começar a divulgar nos Estados Unidos a versão para basquete”, disse Almeida.

As tecnologias que serviram de base para o TacticalPad incluíram o Windows Presentation Foundation (WPF), Windows Forms e bibliotecas de programação específicas para Tablet PC. Com a exportação para versões de iPad e Android, passaram a ser empregadas também outras tecnologias, como OpenGl e Engines 3D.

Mais informações: www.tacticalpad.com

Agência FAPESP