O primeiro workshop foi aberto nesta quarta-feira, na sede da FAPESP, e termina nesta quinta-feira (26/04), no Espaço Ágape, em São Paulo.
Após a conclusão do estudo, a FAPESP, Boeing e Embraer realizarão um projeto de pesquisa conjunto sobre os temas prioritários apontados no levantamento, e lançarão uma chamada de propostas para o estabelecimento de um centro de pesquisa e desenvolvimento de biocombustíveis para aviação comercial envolvendo as três instituições, baseado no modelo dos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPIDs) da FAPESP, voltados para desenvolver pesquisas na fronteira do conhecimento.
O projeto de pesquisa faz parte de um acordo entre as instituições, assinado em outubro de 2011, e integra o Programa FAPESP de Pesquisa em Bioenergia (BIOEN), que reúne mais de 300 cientistas brasileiros, sendo a maioria atuantes em universidades e instituições de pesquisa no Estado de São Paulo, além de 60 pesquisadores de diversos outros países.
O programa possui cinco linhas de pesquisa: "Biomassa para bioenergia" (com foco em cana-de-açúcar), "Processo de fabricação de biocombustíveis", "Biorrefinarias e alcoolquímica", "Aplicações do etanol para motores automotivos: motores de combustão interna e células a combustível" e "Pesquisa sobre sustentabilidade e impactos socioeconômicos, ambientais e de uso da terra".
“Essa oportunidade que nos foi trazida pela Boeing e a Embraer se inseriu muito bem nas linhas de pesquisa do Programa BIOEN e na agenda da FAPESP, de desenvolver pesquisa cooperativa, estimulando e criando condições para as universidades e instituições de pesquisa trabalharem em colaboração com empresas, que trazem desafios científicos importantes e complexos para o conjunto de pesquisadores que temos no estado de São Paulo”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, na abertura do primeiro workshop
O setor de aviação, que contribui com 2% das emissões totais de gases de efeito estufa no planeta, está enfrentando o desafio de reduzir pela metade a emissão de CO2 em 2050, em comparação com 2005, e se tornar neutro carbono até 2020, conforme estabeleceu a Associação de Transporte Aéreo Internacional (Iata, na sigla em inglês).
Para atingir essas metas de controle de emissões, em meio a um cenário de forte expansão do transporte aéreo em todo o mundo, uma das alternativas que estão sendo avaliadas pelo setor é a utilização de biocombustíveis que possam ser misturados ao querosene na proporção de até 50% sem a necessidade de realizar modificações nas turbinas da atual frota de aeronaves e no sistema de distribuição do combustível aeronáutico. Entretanto, ainda não se chegou ao desenvolvimento de um biocombustível que seja produzido em escala comercial e a um custo competitivo.
“Nós ainda não temos uma perspectiva de em quanto tempo teremos biocombustíveis produzidos em escala comercial e que possam ser utilizados na aviação de forma global, e não prevemos que no futuro próximo haverá a substituição completa do combustível fóssil utilizado na aviação por biocombustíveis”, disse Mauro Kern, vice-presidente executivo de engenharia e tecnologia da Embraer.
“O esforço que está sendo feito no Brasil, capitaneado pela FAPESP, que está organizando as empresas, instituições de pesquisa e entidades governamentais e não governamentais, tem o potencial de trazer uma contribuição muito significativa para os projetos que estão sendo realizados no mundo todo para se chegar ao desenvolvimento de um biocombustível para aviação”, avaliou Kern.
De acordo com especialista no setor presentes no evento, apesar de já existirem biocombustíveis produzidos no exterior a partir de diferentes biomassas, que inclusive já obtiveram certificação para serem utilizados na aviação e vêm sendo usados em voos de teste e até mesmo comerciais, eles ainda não são produzidos em grande escala e chegam a ser até 100% mais caros do que o querosene de aviação.
Utilizando a experiência brasileira na produção do etanol, que não é um combustível ideal para a aviação, as instituições envolvidas no projeto pretendem dar um salto tecnológico que possibilite o desenvolvimento de um biocombustível viável comercialmente, obtido a partir do estudo de diferentes matérias-primas, que não só a cana-de-açúcar, e de diversas rotas tecnológicas.
“A grande vantagem de estar realizando esse tipo de pesquisa no Brasil é que o país tem experiência na utilização da cana-de-açúcar, usando uma fonte renovável de combustível. Podemos aprender e utilizar essa experiência para aplicar na área de aviação”, afirmou Donna Hrinak, presidente da Boeing Brasil.
Agência FAPESP