Também se tornou possível avaliar, com critérios objetivos, o impacto de cirurgias e tratamentos fonoaudiológicos na produção da voz.
Pioneiro no país, o equipamento foi adquirido com recursos de um projeto financiado pela FAPESP e coordenado pelo professor José Carlos Pereira, da Escola de Engenharia de São Carlos da USP.
Por meio de parceria com uma equipe de otorrinolaringologistas da Faculdade de Medicina coordenada pelo professor Domingos Hiroshi Tsuji, a máquina foi doada ao Hospital das Clínicas (HC) de São Paulo, onde estão sendo feitos os exames que já resultaram em duas dissertações de mestrado – além de cinco doutorados e um pós-doutorado em andamento.
“Como esse equipamento é novo, o primeiro passo foi definir o que seria o funcionamento normal das pregas vocais. Para isso, criamos um protocolo”, conta o pesquisador Arlindo Neto Montagnoli, orientador do projeto de mestrado da fonoaudióloga Regina Aparecida Pimenta, realizado com Bolsa da FAPESP.
No trabalho, Pimenta avaliou a vibração das pregas vocais de 30 voluntários sem queixa na voz – 12 homens e 18 mulheres – antes e depois da realização de exercícios fonoaudiológicos. “Foi possível comprovar que os exercícios melhoram, por exemplo, a mobilidade e a amplitude de vibração das pregas. Isso faz com que as pessoas se desgastem menos para falar. É como uma musculação para a voz”, explicou.
Outro projeto de mestrado já concluído foi o da fonoaudióloga Paula Belini, que comparou o funcionamento das pregas vocais de pacientes sadios com o de portadores de nódulos vocais.
Para fazer essas avaliações, uma equipe de engenheiros coordenada por Montagnoli desenvolveu um software que simula o movimento das pregas vocais e mede diversos parâmetros, como os ciclos de vibração das pregas e o tempo de fase fechada. O projeto resultou na tese de doutorado de Alan Petrônio Pinheiro, que deve ser defendida ainda em 2012.
“Pretendemos criar um modelo computacional para testar técnicas cirúrgicas de forma virtual. Isso daria ao médico uma ideia de como poderá ficar a voz do paciente após a operação”, contou Montagnoli.
O pesquisador já havia trabalhado com o conceito de cirurgia virtual em seu próprio doutoramento, mas o software foi aperfeiçoado graças às informações fornecidas pelo novo videolaringoscópio. “Antes o modelo era unidimensional. Agora, desenvolvemos uma versão tridimensional”, disse.
“Eletrocardiograma” da voz
No projeto de pós-doutorado da fonoaudióloga Maria Eugênia Dajer, que está sendo realizado sob orientação de Tsuji e com Bolsa da FAPESP, o objetivo é criar gráficos que permitam avaliar o funcionamento das pregas vocais com rapidez.
“É como se fossem eletrocardiogramas da voz. O médico olha e já sabe se está normal ou alterado”, conta Montagnoli. O novo equipamento está sendo usado para validar os resultados dessa análise.
“A ideia é tentar identificar padrões. O médico olharia o gráfico e já saberia se a alteração é causada por um cisto ou por um nódulo, por exemplo”, contou a otorrinolaringologista Adriana Hachiya, responsável pelo Ambulatório de Pesquisas em Voz, onde os exames com o videolaringoscópio de alta velocidade são realizados.
Hachiya também participa de um projeto em parceria com o Departamento de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da FMUSP para estudar a vibração cordal de pacientes com mais de 65 anos. “A prega vocal é formada por músculo e mucosa. Com a idade, o tônus muscular diminui. Por isso a voz do idoso é mais fraca e trêmula. Vamos aplicar exercícios e avaliar a melhora”, explicou.
Há ainda um projeto piloto que visa investigar a fisiologia e as patologias que afetam cantores líricos e uma pesquisa, já em andamento, que vai trabalhar com laringe de cadáveres. “Colocamos sob a laringe um fluxo de ar que simula o ar vindo dos pulmões. As pregas vocais vibram e produzem som”, contou Hachiya.
Esse recurso será usado pelos pesquisadores da USP para testar técnicas cirúrgicas e simular patologias. “Um dos projetos simula uma paralisia da prega vocal. Aí vamos avaliar com o videolaringoscópio como fica a vibração nessas condições”, disse.
Agência FAPESP