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No final de 2011, 80 índios das tribos Kaigang e Guarani vieram ao Hospital São Lucas da PUCRS (HSL) realizar exames de sangue e densitometria óssea. Os dados serão analisados pela enfermeira e doutoranda em Gerontologia Biomédica, Ana Karina da Rocha, que estuda a osteoporose associada à síndrome metabólica em índios com 40 anos ou mais. Pela fragilidade de sua saúde, os indígenas são considerados idosos a partir dos 45 anos.
Essa população é um grupo de risco social, pois o índice de mortalidade é alto antes da idade adulta. "Acredito que isso aconteça por questões culturais", observa Ana. "Ao contraírem uma doença, muitas vezes eles não procuram auxílio médico, mas o pajé da aldeia. Usam chás e os problemas acabam se agravando".

A pesquisa é inédita e está sendo orientada pela professora Denise Cantarelli. "Não se fala em osteoporose em índios brasileiros, nenhum trabalho trata do assunto. Existem pesquisas relacionando essa doença a índios americanos, mas o perfil deles é completamente diferent"¿, revela Ana. Em 2009, a enfermeira trabalhou com essa população em seu mestrado. Ela pesquisou a prevalência da síndrome metabólica em indígenas com mais de 40 anos. Durante esse estudo, foi realizado um questionário sobre os hábitos alimentares dos participantes. "Com esse material, diagnosticamos que esse grupo não tem o hábito de tomar leite ou de comer derivados dele, por isso resolvemos pesquisar a dosagem de vitamina D e as desintometrias ósseas para avaliar os ossos dessa população", explica a doutoranda.

Trabalhar com índios no Brasil não é tarefa fácil. A proposta precisa ser aprovada por vários comitês. O processo de autorização para a pesquisa de Ana Karina demorou dois anos. Começou numa reunião com a própria tribo e terminou com a aprovação da Fundação Nacional do Índio (Funai). Para a professora Denise, essa demora nas autorizações desestimula os pesquisadores a investigarem a população indígena. No mestrado, a autorização para realizar exames nos índios foi dada cerca de três meses antes da defesa da dissertação. "Eu nem sabia se ia conseguir concluir a pesquisa", lembra Ana. Além dessa dificuldade, é preciso conquistar a confiança dos indígenas. "Trabalho com esse grupo desde 2008. Tenho uma aproximação maior com eles, especialmente porque sempre explico o estudo para que saibam do que estão participando", afirma. Essa abertura facilitou a vinda dos índios idosos ao HSL.

Na PUCRS, além de fazerem exames, os indígenas assistiram a uma palestra sobre alimentação e participaram de uma aula de ginástica laboral. Além disso, conheceram o Museu de Ciências e Tecnologia (MCT). Segundo Ana Karina, eles adoraram a visita, inclusive o trajeto feito a pé entre o HSL e o MCT. "Tiraram fotos na passarela, pois nunca tinham visto nada parecido", relata Ana. No caminho, alguns sentiram dores nas pernas, somente pela caminhada. "Na aldeia eles têm uma vida muito sedentária", explica a doutoranda. "Acredito no tema e acho que é importante falar sobre ele, até por não existir bibliografia sobre o assunto. O fato de poder apresentar um trabalho inédito me incentiva", revela.