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AmazôniaEdição da revista Nature de janeiro deste ano destaca o experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia (LBA), projeto que vem sendo desenvolvido há mais de vinte anos pelo Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia (INPA) em parceria entre diversas instituições, com a coordenação do professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física (IF) da USP.
Em texto publicado no periódico, Artaxo conta como um grupo de cientistas colocou em prática “um ambicioso plano para estudar a floresta amazônica de uma forma totalmente nova, para melhorar a nossa compreensão da floresta e seu papel no sistema climático global”. O intuito era construir uma base científica para aprender como a região poderia ser desenvolvida de forma sustentável.

Especialista em mudanças climáticas, o físico deu este depoimento a convite da Nature, após ter redigido um primeiro artigo, para a mesma edição, em que sintetizava os resultados das pesquisas realizadas pelo LBA.

Chamou a atenção dos editores a capacidade do projeto em agregar, por 20 anos, cientistas de diferentes setores e nacionalidades, em torno do complexo objetivo. O LBA envolve cerca de 1100 de pesquisadores e estudantes, produziu mais de dois mil trabalhos publicados e mais de 300 teses e dissertações, sendo o maior experimento científico ambiental em execução atualmente. “Este é um feito não desprezível para o Brasil – vários países tentaram ações semelhantes e não conseguiram. Entrou governo, saiu governo, e nós continuamos com nosso experimento, até ele ter o sucesso que tem hoje”, comemora Artaxo.

Organização

Na prática, procurou-se conduzir um estudo integrado, em que físicos, químicos e biólogos trabalhassem juntos em projetos de pesquisa, em que cada um atua na sua área, mas leva em conta o que está sendo produzido nas outras. “É a única maneira de entender um ecossistema tão complexo como a Floresta Amazônica”, ressalta o professor.

O docente do IF coordena 15 cientistas que, por sua vez, lideram equipes de pesquisadores na execução dos estudos em suas respectivas especialidades. Segundo ele, a USP em especial é um terreno fértil para integração de conhecimento, como destaca:

    “O Brasil tem um papel de liderança científica na questão das mudanças climáticas. Em muitas áreas de pesquisa, a exemplo da química atmosférica, estamos no mesmo nível de países que sediam as melhores universidades do mundo – e a USP obviamente tem um papel significativo nisso”.

Os diversos projetos associados ao LBA são financiados, entre outros, pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), INPA, Ministério da Ciência e Tecnologia, e pela pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Pesquisa

Membro da equipe do Painel Internacional de Mudanças Climáticas (IPCC) premiada com o Nobel da Paz de 2007, o cientista focaliza em seus estudos o balanço de radiação da atmosfera amazônica.

Para isso, leva em consideração o papel de partículas de aerossóis, tanto emitidos naturalmente pela vegetação, quanto em processos de queimadas na Amazônia. “Trabalho a questão das alterações nos ciclos biológicos, nos mecanismos de formação e desenvolvimento de nuvens e alterações na taxa de precipitação. Os processos que regulam a concentração de gases e de partículas sólidas na atmosfera amazônica, e a biologia, química e física associadas”, conta.

De acordo com Artaxo, o LBA não é um estudo tecnológico, visando o desenvolvimento de produtos, mas sim diversas pesquisas que buscam entender o funcionamento dos ecossistemas tropicais, o que é essencial na questão das mudanças climáticas globais. “O que vai acontecer com a Floresta Amazônica, onde será alocado aquele carbono que hoje está armazenado na biomassa?”, questiona, citando que a floresta guarda cerca de cem milhões de toneladas de carbono, o que equivale a 10 anos de queima de petróleo pelo mundo todo. E adverte:

    “É uma quantidade gigantesca de carbono que, se for mobilizada rapidamente para a atmosfera, pode causar alterações climáticas muito fortes”.

Uma floresta que polui

Tal problema pode se dar tanto pela ação humana, com as queimadas e agricultura, quanto pelas próprias mudanças climáticas, que podem fazer com que a vegetação se torne preponderantemente emissora de carbono.

“No artigo da Nature, estudamos o papel das secas de 2005 e 2010 na alteração do funcionamento natural da floresta. Observamos que, naturalmente, a floresta absorve CO2 da atmosfera, em concentrações relativamente grandes, mas que, durante o período de seca, a floresta inverteu este papel, perdendo parte do carbono para a atmosfera”, explica Artaxo.

O balanço de carbono na floresta é regulado pela fotossíntese, que absorve CO2 da atmosfera e fixa na biomassa, e pela decomposição da própria floresta, que se renova frequentemente. Na floresta tropical, uma árvore grande morre e em questão de alguns anos se decompõe completamente, diferentemente do que acontece na Finlândia, por exemplo, em que o clima é muito mais frio e seco, e o processo mais lento, preservando o carbono naquele ecossistema.

“Quantificamos o processo na Amazônia e mostramos que lá o ecossistema pode estar saindo de um equilíbrio em que esteve ao longo de milhões de anos para entrar em um novo, em que emite constantemente carbono para a atmosfera, mais do que absorve”, conclui o docente.