Em colaboração com colegas da África do Sul e da Turquia, os brasileiros verificaram que se trata de uma espécie desconhecida para a ciência, embora aparentada com outras que na mesma época habitavam as regiões onde agora é a Rússia e a África do Sul. O estudo foi publicado hoje na PNAS. “Os animais podiam caminhar desde a Rússia até a África do Sul, passando pela América do Sul”, conta Cisneros. Fósseis do mesmo período já foram encontrados no Piauí e no Maranhão, reforçando essa ligação.
O predador da família dos dinocefálios, que são precursores dos mamíferos (não eram dinossauros, o pesquisador faz questão de ressaltar), foi batizado de Pampaphoneus biccai. O primeiro nome significa “matador dos Pampas” e o segundo é uma homenagem a José Bicca, dono da fazenda onde o fóssil foi encontrado.
As análises do crânio revelaram que P. biccai era um predador eficaz. Os grandes caninos curvados para trás prendiam a vítima de forma implacável, enquanto dentes menores serrilhados logo atrás cortavam a refeição à medida que a boca se fechava como uma tesoura. Para completar, pequenos dentes no palato ajudavam a macerar o alimento. “Provavelmente funcionava como a língua de um gato”, compara Cisneros.
A partir dos estudos detalhados que tem feito na região, o grupo já tem uma boa ideia da fauna desse período, o Permiano Médio. Segundo o pesquisador, o carnívoro recém-descoberto caçava animais como os pareiassauros, cuja pele tinha partes ósseas a exemplo da armadura dos jacarés, e os herbívoros de dentes de sabre Tiarajudens eccentricus, descobertos pelo mesmo grupo nessa região.
“É o primeiro carnívoro desse período encontrado na América do Sul”, afirma Cisneros, que pretende continuar as buscas, aprofundar as análises do crânio (tomografias são uma possibilidade) e ampliar as comparações com fósseis da África e da Europa. Ele mesmo originário de El Salvador, na América Central, participa de estudos tanto no Piauí, onde é professor, como no Rio Grande do Sul. “Fiz o mesmo trajeto dos animais do Permiano”, brinca.