Na manhã de 8 de abril de 1982, enquanto examinava uma liga de alumínio e manganês em um microscópio eletrônico, o cientista viu uma imagem que contradizia as leis da natureza e inicialmente duvidou do que havia observado.
Mais difícil foi convencer a comunidade científica de que se tratava de uma importante descoberta. Um dos que duvidaram foi Linus Pauling, ganhador do Nobel de Química em 1954.
Em toda matéria sólida, até então se achava que os átomos se agrupavam dentro de cristais em padrões simétricos repetidos periódica e constantemente. Para os cientistas, essa repetição era fundamental de modo a se obter um cristal.
A imagem vista por Shechtman mostrava algo diferente: que átomos em um cristal poderiam ser agrupados em um padrão que simplesmente não se repetiria jamais. A descoberta foi tão polêmica que o próprio cientista foi convidado a deixar o grupo de pesquisa do qual fazia parte. O diretor do laboratório até mesmo lhe deu um manual de cristalografia, aconselhando-o a estudar mais.
Mas o tempo e outras pesquisas mostraram que Shechtman estava certo e sua descoberta acabou alterando o conceito e o conhecimento sobre a matéria sólida.
Mosaicos não periódicos, como os medievais encontrados em construções islâmicas – tal qual o palácio de Alhambra, na Espanha, ou a mesquita Darb-i Imam, no Irã, ajudaram os cientistas a entender como os quase-cristais se parecem no nível atômico.
Assim como os quase-cristais, esses mosaicos têm padrões regulares, que seguem regras matemáticas, mas nunca se repetem.
Depois da descoberta de Shechtman, outros cientistas produziram diversos tipos de quase-cristais em laboratório. Na natureza, essas formas inusitadas também são encontradas. Foram observadas em amostras de minerais de um rio na Rússia e em um tipo de aço feito na Suécia.
Quase-cristais estão sendo experimentados nos mais variados produtos, de frigideiras e motores a diesel.
Shechtman receberá 10 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 2,8 milhões) em cerimônia em dezembro, em Estocolmo.
Agência FAPESP