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Ao estudar as causas da hipertensão resistente, que não cede com o uso de medicamentos, um grupo de pesquisadores constatou que a condição mais frequentemente associada ao problema é a apneia do sono – distúrbio caracterizado pela suspensão da respiração enquanto o paciente dorme. O estudo foi realizado por cientistas do Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), em parceria com pesquisadores do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, e já foi aceito para publicação na revista Hypertension.
Em outro estudo ainda inédito, o grupo do InCor também demonstrou que o uso do equipamento conhecido como CPAP – sigla em inglês para “pressão positiva contínua nas vias aéreas” –, tratamento padrão para a apneia do sono, pode ser eficiente como terapia auxiliar, no caso dos pacientes com hipertensão resistente.

Um estudo anterior, publicado em março na Hypertension, havia demonstrado que o CPAP é eficiente também como prevenção, no caso de pacientes pré-hipertensos.

Os dois trabalhos sobre hipertensão resistente foram realizados no âmbito de um projeto que teve apoio da FAPESP na modalidade Auxílio à Pesquisa – Regular e foi coordenado por Geraldo Lorenzi Filho, professor do InCor.

“Os pacientes com hipertensão resistente, por definição, são aqueles que não conseguem controlar a pressão arterial mesmo tomando três fármacos anti-hipertensivos em dose máxima, sendo um deles diurético.Trata-se de um problema muito grave, por isso decidimos realizar um estudo sobre as causas desse tipo severo de hipertensão”, disse à Agência FAPESP.

Em parceria com cientistas do Instituto Dante Pazzanese, os pesquisadores do InCor monitoraram mais de uma centena de pacientes de hipertensão resistente, a fim de investigar a causa do problema. A conclusão foi que a apneia era a condição mais frequentemente associada a ele.

“Identificamos uma frequência de 64% de casos de apneia do sono nessa população de hipertensos resistentes. A apneia foi, de longe, a principal causa do problema”, disse Lorenzi.

Em um segundo trabalho com os hipertensos resistentes, os pesquisadores do InCor separaram de forma randomizada, durante seis meses, um grupo tratado com o CPAP e medicamentos e outro apenas com os medicamentos. O trabalho fez parte de um doutorado e acaba de ser submetido à Hypertension.

“O tratamento com o CPAP conseguiu provocar uma queda significativa na pressão arterial dos pacientes. Trata-se de uma alternativa de tratamento adjuvante, que não dispensa o uso de fármacos. Mas o resultado foi animador”, disse.

Hipertensão mascarada

De acordo com Luciano Drager – também professor do InCor e um dos responsáveis pela série de estudos sobre apneia e hipertensão –, além dos trabalhos relacionados aos pacientes refratários ao tratamento, o grupo realizou um estudo com foco no caso inverso: os pacientes com pré-hipertensão ou hipertensão mascarada.

“Já sabíamos que a apneia do sono é um fator de risco para o desenvolvimento de hipertensão e que o tratamento com CPAP promove uma redução da pressão arterial. Começamos então a levantar a seguinte questão: se usarmos o CPAP em pacientes que estão sob risco de desenvolver a hipertensão, será que conseguiríamos impedir o surgimento do problema?”, disse.

Para descobrir a resposta, os cientistas estudaram pacientes com dois tipos de problema: a pré-hipertensão e a hipertensão mascarada. “Essas duas condições são fatores que aumentam o risco de o paciente desenvolver no futuro uma hipertensão sustentada”, afirmou.

A pré-hipertensão, segundo Drager, é caracterizada por indivíduos cuja pressão arterial é normal, mas com valores próximos aos limites da hipertensão. Já nos casos de hipertensão mascarada, os pacientes não apresentam o problema quando a pressão é medida de forma pontual, mas acusam hipertensão quando são submetidos por 24 horas a um aparelho mais sofisticado de monitoramento da pressão arterial.

“Estudamos 36 pacientes com apneia do sono bastante forte. Fizemos uma randomização e metade deles foi tratada com o CPAP e metade permaneceu sem tratamento por três meses. Observamos que no final do período o grupo que recebeu o tratamento com CPAP teve uma redução considerável da frequência de hipertensão”, contou.

No início do estudo, 94% dos pacientes com apneia apresentaram pré-hipertensão. Depois do tratamento com o CPAP apenas 55% continuavam com o problema. Quanto à hipertensão mascarada, 39% apresentaram o problema no início do estudo. Após o tratamento com CPAP, a frequência foi reduzida para 5%.

O grupo que não recebeu o CPAP não apresentou mudanças significativas. “Entre os tratados com CPAP, a redução da pré-hipertensão e da hipertensão mascarada foi muito significativa, considerando que foram apenas três meses de tratamento”, disse Drager.

O paciente com apneia dorme mal, ronca, tem prejuízos na memória e sonolência diurna, por isso precisa do tratamento. Mas a principal mensagem do estudo, de acordo com o cientista, é que, além da melhora de qualidade de vida ocasionada pela redução dos sintomas da apneia, o tratamento com CPAP pode, em tese, prevenir a ocorrência de hipertensão.

“Investir no tratamento da apneia com o uso do CPAP pode ser uma alternativa para reduzir a hipertensão da população, com um impacto econômico positivo muito relevante nos recursos públicos”, destacou.

O artigo The Effects of Continuous Positive Airway Pressure on Prehypertension and Masked Hypertension in Men With Severe Obstructive Sleep Apnea (doi:10.1161/HYPERTENSIONAHA.110.165969), de Luciano Drager, Geraldo Lorenzi Filho e outros, pode ser lido por assinantes da Hypertension em http://hyper.ahajournals.org.

Agência FAPESP