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Há exatos 100 anos o físico holandês Heike Kamerlingh Onnes (1853-1926) descobriu o fenômeno da supercondutividade, uma propriedade física encontrada em determinados materiais que, em temperaturas extremamente baixas, apresentam resistência elétrica praticamente nula. Desde então, o avanço do conhecimento gerou novos materiais supercondutores e novas aplicações, que têm potencial cada vez mais promissor, em especial no campo da eletro-eletrônica.
As pesquisas mais avançadas da atualidade na área são o tema da Escola São Paulo de Ciência Avançada em Condutores e Supercondutores Anisotrópicos, que está ocorrendo em Lorena (SP), onde alguns dos principais especialistas do mundo no assunto estão interagindo com mais de 60 pós-doutorandos e alunos de pós-graduação do Brasil e do exterior.

Iniciado no dia 8 de agosto, com intensa programação prevista até a próxima sexta-feira (19/8), o evento, organizado pelo Departamento de Engenharia de Materiais da Escola de Engenharia de Lorena (EEL), da Universidade de São Paulo (USP), é realizado no âmbito da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), modalidade de apoio da FAPESP.

A anisotropia é a característica das substâncias nas quais determinadas propriedades físicas variam com a direção. “Os condutores e supercondutores anisotrópicos são materiais que conduzem a corrente elétrica de maneiras diferentes de acordo com a direção, diferentemente dos condutores isotrópicos, como o cobre, que conduzem a corrente da mesma forma para qualquer direção”, disse o coordenador do curso, Carlos Alberto Moreira dos Santos, à Agência FAPESP.

Segundo o professor da EEL-USP, os supercondutores convencionais têm grande importância no desenvolvimento atual de tecnologias como eletrônica, trens de alta velocidade e aceleradores de partículas. Mas o conhecimento sobre supercondutores anisotrópicos ainda precisa ser aprofundado.

“Os supercondutores anisotrópicos têm estrutura cristalina mais complexa. Poderemos avançar muito nas aplicações tecnológicas se compreendermos melhor o processo de condução elétrica nesses materiais”, disse.

Santos explica que o seu grupo em Lorena trabalha na área de condutores e supercondutores anisotrópicos, com a colaboração de pesquisadores do exterior, há cerca de oito anos. Mas, enquanto muitos alunos brasileiros são enviados a laboratórios no exterior, a vinda de pesquisadores e estudantes estrangeiros para o Brasil ocorre em escala bem inferior.

“Hoje, temos uma forte colaboração internacional, em especial com instituições norte-americanas. Em função dessa interação, percebemos que, além de enviar pesquisadores para o exterior, teríamos muito a ganhar se também trouxéssemos estrangeiros para a nossa instituição. Quando a FAPESP lançou a modalidade de apoio da ESPCA, percebemos nela uma excelente oportunidade de internacionalização”, afirmou.

Entre os estudantes que participam da ESPCA, metade são estrangeiros, dos Estados Unidos, China, Índia, México, Argentina, Espanha e Alemanha. Há ainda participantes da própria EEL-USP e de outras instituições brasileiras.

“Esses estudantes aproveitam uma oportunidade única para interagir intensamente com alguns dos mais renomados especialistas da área no Brasil e no mundo. São duas semanas de dedicação integral. Além de minicursos, nos quais os palestrantes fazem um conjunto de apresentações, há conferências dedicadas a aprofundar determinados temas”, disse Santos.

A programação prevê ainda a realização de meetings (encontros). “São horários reservados para discussões com grupos fora da sala de aula, na tentativa de ampliar essas relações internacionais. Nessa atividade, os pesquisadores podem, por exemplo, visitar laboratórios para verificar os equipamentos que poderão utilizar caso venham a ampliar a colaboração conosco”, explicou.

O evento representa também uma oportunidade única para estreitar as relações entre os próprios membros da comunidade científica brasileira. “Ao longo do tempo, o grupo de supercondutividade no Brasil foi se dispersando”, disse Santos.

Embora os contatos sejam feitos esporadicamente em grandes congressos de física, segundo o coordenador da escola, os especialistas em supercondutividade encontram grande dificuldade para se encontrar e interagir com mais proximidade.

“Quando começamos a entrar em contato com os especialistas mais renomados da área no Brasil para a realização da ESPCA, todos logo perceberam que seria uma oportunidade única para reunir o grupo no mesmo local”, disse.

Além de Santos, o curso tem outros palestrantes da própria EEL-USP: Antonio Jefferson da Silva Machado, Cristina Bórmio Nunes, Daltro Garcia Pinatti e Durval Rodrigues Junior.

Os outros docentes brasileiros são Enzo Granato, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), José Albino Aguiar, da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE), Leonardo Cabral (UFPE) , Oscar Ferreira de Lima (Unicamp), Paulo Pureur Neto, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Renato de Figueiredo Jardim (USP), Rodrigo José Mossanek, da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e Yakov Kopelevich, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Entre os professores estrangeiros estão Zachary Fisk e Alexander Chernyshev, da Universidade da Califórnia em Irvine (Estados Unidos), John Neumeier, da Universidade Estadual de Montana (Estados Unidos), Joshua Cohn, da Universidade de Miami (Estados Unidos), Mathias Doerr, do Instituto de Física Experimental de Dresden (Alemanha), Milton Torikachvili, da Universidade Estadual de San Diego (Estados Unidos), Xavier Berenguer, do Instituto de Ciências dos Materiais de Barcelona (Espanha), e Gladys Nieva, do Centro Atômico Bariloche (Argentina).

Mais informações: www.espca.eel.usp.br

Agência FAPESP