Para verificar a associação, a bióloga e doutora em Ciências da Saúde, Vanessa Santos, desenvolveu a primeira pesquisa a envolver um grupo de ex-fumantes.
A tese de doutorado Inter-relações entre tabagismo, sintomas depressivos e genética foi desenvolvida em duas etapas: uma no Programa de Pós-Graduação em Medicina e Ciências da Saúde da PUCRS e outra na Universidade de Toronto, no Canadá. O convênio entre as duas instituições, formalizado em 2005, permitiu que Vanessa concorresse à bolsa do Programa de Doutorado no País com Estágio no Exterior da Capes. Durante um ano, de 2008 a 2009, a bióloga realizou o doutorado sanduíche em Toronto, sob supervisão do gaúcho radicado no Canadá, pneumologista Noe Zamel.
Na primeira parte da pesquisa, realizada em Porto Alegre, sob supervisão do professor José Miguel Chatkin, foram entrevistados 1.021 voluntários, doadores de sangue do Hospital São Lucas.Nos questionários aplicados buscavam-se dados demográficos e que mediam a dependência de nicotina nos fumantes e sintomas depressivos.
A associação entre tabagismo em fumante atuais e sintomas depressivos foi confirmada e o escore de pontos na escala que mede depressão de ex-fumantes foi significativamente menor que o de fumantes atuais. "A Vanessa uniu a parte clínica do fumante a um aspecto psiquiátrico depressão e tabagismo e, num segundo momento, somou a genética do tabagismo", relata Chatkin.
Na segunda fase, o objetivo era pesquisar a relação entre tabagismo e genética. Para isso foram entrevistados 531 voluntários, além da realização de coleta de sangue, em Porto Alegre. As análises genéticas foram feitas na Universidade de Toronto, orientadas por Noe Zamel.
Vanessa fez uma análise estatística extensa, comparando fenótipo com genótipo, e testou uma série de 21 variações de genes com alterações de sequência de parte do DNA. "Buscamos a associação entre 21 polimorfismos e tabagismo e encontramos em dois genes envolvidos no transporte de glutamato e na plasticidade sináptica, dois fatores importantes que foram associados com o mecanismo do tabagismo", revela. A associação desses dois genes ocorre mais em fumantes que em não fumantes, pois são hereditários.
Dados da literatura médica mostram que o tabagismo não é apenas comportamental e pode ser resultado da predisposição genética, em uma relação de 30% de influência ambiental e 70% de genética. "Dos 7 bilhões de pessoas no planeta, 1,4 são fumantes e, desses, 80% demonstram vontade de parar de fumar, sendo o máximo de abstenção de 20% em longo prazo", destaca Zamel.
Noe Zamel tem uma longa trajetória na pesquisa médica, especialmente na área respiratória, com estudos sobre ética e genética na pneumologia. Entre suas principais pesquisas está o mapeamento dos genes causadores da asma. Zamel descobriu o primeiro gene relacionado à asma e é reconhecido mundialmente pelo seu trabalho com a doença e o tabagismo. Recentemente trabalha com genética do tabagismo.
O convênio entre a PUCRS e a Universidade de Toronto incentiva pesquisas conjuntas e promove o intercâmbio de alunos da graduação e da pós-graduação. "É a possibilidade de verificar como funciona o sistema de saúde", conclui Chatkin.
Assessoria de Comunicação Social - PUCRS / ASCOM