Durante o workshop, o professor Jacques Lépine, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da Universidade de São Paulo (USP), apresentou a palestra “Ciência e Tecnologia com o Llama”.
Segundo Lépine, o evento teve o objetivo de evidenciar que o projeto tem alta demanda na comunidade científica e que poderá trazer importantes resultados científicos em várias áreas da astronomia, além de aumentar a competitividade dos pesquisadores brasileiros e argentinos em relação à participação no projeto internacional Atacama Large Millimeter Array (Alma), que está sendo construído no Chile.
“O Alma é o maior projeto astronômico da atualidade, financiado pela União Europeia, Estados Unidos e Japão. A intenção é que o Llama fique a 200 quilômetros do Alma. Com isso, poderemos fazer interferometria entre os dois projetos – isto é, utilizá-los em rede a fim de obter maior resolução”, disse à Agência FAPESP.
De acordo com Lépine, o Llama terá uma antena de 12 metros de diâmetro instalada em território argentino, com orçamento inicial estimado em US$ 20 milhões. Já o Alma, cuja construção está prevista para o fim de 2013, consiste em um conjunto de 66 antenas de 12 metros espalhadas em uma área de cerca de 15 quilômetros no norte do deserto do Atacama, no Chile. O orçamento é de US$ 1,4 bilhão. Ambos os projetos serão instalados a cerca de 5 mil metros de altitude.
“Cada vez que o Alma fizer uma descoberta científica de grande interesse – e certamente serão muitas, no maior projeto astronômico da atualidade –, os pesquisadores poderão achar interessante fazer uma observação com uma resolução angular melhor. E o Llama vai estar lá para isso”, disse Lépine.
O Llama permitirá estudos em praticamente todas as áreas da astronomia, como estudos sobre o Sol e o sistema solar, a evolução das estrelas, o meio interestelar e as galáxias distantes. O Alma, que tem os mesmos objetivos científicos, deverá especialmente fornecer novas imagens do nascimento de estrelas, da formação de sistemas planetários e dados sobre as primeiras galáxias do universo.
“Haverá muita competição para a utilização do Alma e, com o Llama, os cientistas sul-americanos terão mais poder de barganha para conseguir aumentar seu tempo de utilização. Com um investimento de US$ 20 milhões, poderemos aumentar muito nossa participação em um grande projeto global de US$ 1,4 bilhão”, destacou Lépine.
A afirmação foi reiterada pelo diretor do Alma, Thij de Graauw , também presente no workshop. “O Llama seria sem dúvida a melhor oportunidade possível para que os pesquisadores brasileiros e argentinos possam participar das pesquisas no Alma”, afirmou.
Segundo Lépine, as bandas iniciais de operação do Alma serão de 84 a 116 gigahertz, de 221 a 275 gigahertz, de 275 a 373 gigahertz e de 602 a 720 gigahertz. O Llama deverá começar a operar na banda de 31 a 45 gigahertz.
“Os dados obtidos no Llama poderão ser refinados com o Alma, cujos pesquisadores também poderão utilizar o Llama para conseguir uma resolução angular melhor a fim de estudar detalhes sobre determinada descoberta”, disse.
Outra vantagem do Llama, segundo Lépine, é que ele será a semente de uma rede de radiotelescópios. “A longo prazo, o Alma vai exigir a instalação de antenas em vários países da região. O Llama poderá servir como o início de uma integração científica e tecnológica regional”, afirmou.
Demanda da comunidade científica
De acordo com Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP, o workshop teve o papel de reunir a comunidade científica interessada para colocar em perspectiva a demanda para projetos como o Llama.
“Quando os cientistas nos procuram com ideias desse tipo, a primeira questão que levantamos é se há uma comunidade científica que irá se beneficiar disso em São Paulo ou no Brasil. Avaliamos não apenas o tamanho dessa comunidade, mas também até que ponto ela gera a expectativa de produzir ciência de alto impacto com o projeto em questão”, disse.
Para essa avaliação, segundo Brito Cruz, é preciso que os interessados mostrem que tipo de ciência estão fazendo, a fim de esclarecer qual o grau de desenvolvimento atual da ciência relacionada ao projeto.
“Dependendo do resultado do workshop, se acharmos que a proposta é significativa, com capacidade de chegar a bons resultados e gerar ciência de alto impacto, podemos estudar a abertura de uma proposta de pesquisa para esse tipo de ciência. O workshop é fundamental para pavimentar o caminho desse processo”, afirmou.
Marta Rovira, presidente do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Tecnológicas (Conicet), da Argentina, veio a São Paulo exclusivamente para participar do workshop. Ela apontou que a adesão ao projeto poderá estreitar ainda mais as colaborações científicas entre Brasil e Argentina.
“Trata-se de um projeto muito interessante de radioastronomia e as parcerias com o Brasil são sempre muito importantes. A relação acadêmica e científica entre Brasil e Argentina, em geral, é muito próxima. Não só em colaborações institucionais, mas com grupos de trabalho que atuam em parceria”, destacou.
Segundo ela, a comunidade científica argentina também demonstrou entusiasmo com o projeto. “Os pesquisadores da área de radioastronomia estão muito interessados e ficaram empolgados especialmente com a possibilidade de ter acesso aos instrumentos do Alma, que é um projeto grandioso”, disse.
Rovira explicou que o Conicet atua de maneira distinta da FAPESP. A instituição, que atua na esfera federal, não é dedicada a financiar pesquisa diretamente, mas contrata pesquisadores científicos e tecnológicos que têm vínculo com as universidades. O Conselho também oferece bolsas de doutorado.
“O Conicet tem quase 150 institutos espalhados em todo o país. São entidades temáticas que reúnem gente que se dedica a temas semelhantes. Nos institutos há técnicos e funcionários, incluindo o pessoal administrativo, que pertence ao Conicet. Mas, diferentemente da FAPESP, o fomento à pesquisa não é o mais importante. O orçamento é utilizado principalmente para pagar os salários”, explicou.
Caso o projeto Llama seja aprovado, o lado brasileiro deverá financiar a construção da antena, enquanto o lado argentino deverá providenciar o local e fornecer a infraestrutura, incluindo a construção de estradas, telecomunicações e pequenos prédios.
Agência FAPESP