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Pela primeira vez, tantos aglomerados pequenos e pouco brilhantes de estrelas - 96 no total - foram encontrados ao mesmo tempo. A equipe internacional, da qual cinco brasileiros fazem parte, obteve as imagens usando, no infravermelho, Visible and Infrared Survey Telescope for Astronomy (Vista) do European Southern Observatory (ESO), instalado no Chile. Com a descoberta, os pesquisadores poderão entender mais sobre a Via Láctea: a distribuição espacial de aglomerados pode ser usada para calcular com mais precisão a distância nossa até o centro da galáxia, a formação de estrelas e sua evolução. O trabalho foi publicado na revista especializada Astronomy & Astrophysics, no dia 4 de agosto.
stelle-ammassiAntes invisíveis para as lentes dos telescópios, por ficarem camuflados atrás da poeira que existe dispersa pela galáxia, os aglomerados estão localizados na área mais antiga e central da Via Láctea chamada pelos cientistas de bojo. Com essas imagens do bojo da galáxia em alta resolução, os pesquisadores pretendem estudar as estrelas variáveis – que emitem luz inconstante por vários motivos como devido ao eclipse dela por outra estrela ou por sua emissão de luz oscilar, mesmo. “Essa variabilidade pode ser usada para determinar as distâncias dentro da Via Láctea”, conta Eduardo Bica, colega do também autor do estudo Charles Bonatto, ambos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

“Hoje em dia, não temos a noção exata da distância da Terra até o centro da Via Láctea. Acreditamos que existe um erro de cálculo da ordem de 10% a 20%. Alguns aglomerados nos ajudarão a resolver esse problema”, explica Bica. “Vamos compor e montar a estrutura da nossa galáxia e, assim compreender melhor a Via Láctea em que vivemos”, completa. Bruno Dias, da Universidade de São Paulo (USP), Márcio Catelan e Roberto Saito, ambos da Pontificia Universidad Católica do Chile, são os demais brasileiros que fazem parte do grupo formado por argentinos, japoneses, canadenses, coreanos, portugueses, britânicos.

Comparados com outros aglomerados já descobertos, os 96 em questão são compactos. A poeira que se encontra na frente deles – com relação ao nosso ponto de observação na Terra - faz com que pareçam de 10 mil a 100 milhões de vezes menos brilhantes, o que dificultou o achado. Além disso, a maioria dos 96 aglomerados possui cerca de 10 a 20 estrelas, ou seja, é relativamente pequena. Por tudo isso, esses objetos permaneceram invisíveis em rastreios anteriores.

Segundo Bica, os telescópios infravermelhos conseguem penetrar a poeira em volta do Sistema Solar e as nuvens de poeira no caminho. “Nós estamos em um dos braços espirais da galáxia. Até enxergamos o centro, passamos por muitos objetos celestes e nuvens de poeira. Os comprimentos de onda observados pelo telescópio Vista são essenciais, ele consegue olhar através dessa poeira, nos permitindo observar esses novos objetos”, diz o astrônomo.

“O Vista possui espelho de cerca de quatro metros de diâmetro, grande entre os telescópios infravermelhos do mundo. As muitas imagens coletadas em apenas noite pelo Vista ajudam a construir um grande atlas digital do céu do Hemisfério Sul em infravermelho”, conta Bica. Em seguida, usando um software especial, a equipe removeu as estrelas que apareciam em frente de cada aglomerado e contou seus membros. Com essas imagens, o grupo mediu o tamanho do aglomerado.

Mas, afinal, o que são aglomerados estelares? “Eles são conhecidos há muito tempo. Trata-se de sistemas de estrelas que nasceram quase ao mesmo tempo, com a mesma composição química em suas atmosferas e que partilham gravidade comum”, explica Bica. A maioria das estrelas com mais de metade da massa do Sol forma-se em grupos chamados aglomerados abertos, que são os tijolos que constituem as galáxias e são vitais para a evolução delas.

Os aglomerados estelares surgem em regiões com muita poeira, que espalham e absorve a maior parte da radiação visível emitida pelas estrelas jovens, tornando-os invisíveis à maioria dos rastreios do céu. Apenas 2500 aglomerados abertos foram encontrados na Via Láctea desde a Antiguidade, mas os astrônomos estimam que devam existir pelo menos 30 mil deles por trás da poeira e do gás da galáxia. Com o telescópio Vista, os pesquisadores também usam um software automático mais sofisticado para procurar aglomerados mais velhos e menos concentrados. A equipe acredita que em breve encontrará mais aglomerados próximos – ou no caminho – do centro da nossa galáxia.

Revista Pesquisa FAPESP