O Cepof foi um dos centros aprovados, em 2000, no primeiro edital do programa Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (CEPID). O apoio da FAPESP é de 11 anos. Em maio de 2011, a Fundação publicou o segundo edital do programa, que selecionará até 15 propostas para a criação de novos centros. As propostas serão recebidas até o dia 15 de agosto.
O objetivo dos CEPIDs é desenvolver – com impacto mundial e regional – pesquisa fundamental e ciência orientada para a transferência de tecnologias, além de atividades de educação e difusão do conhecimento.
Segundo Bagnato, o programa CEPID estabeleceu uma nova forma de fazer pesquisa no Brasil, pois permitiu lidar com estudos que seriam inconcebíveis sem investimentos de longo prazo.
“Deixamos de nos preocupar apenas com as pesquisas que têm resultados imediatos e passamos também a nos aventurar naqueles desafios que têm efeitos mais duradouros e significativos. O programa permitiu que investíssemos em pesquisas que exigem um tempo maior para trazer resultados”, disse à Agência FAPESP.
No caso do Cepof, segundo Bagnato, a perenidade das pesquisas garantidas pelo formato do CEPID garantiu que as terapias fotônicas se tornassem uma realidade no Brasil do ponto de vista clínico. O avanço conquistado na área, segundo ele, alavancou financiamentos de outras fontes, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“A biofotônica decolou no país com o desenvolvimento da terapia fotodinâmica e as aplicações voltadas para o controle microbiológico. Mas o pioneirismo do Cepof também se manifestou em outras áreas, como nos estudos com fluidos quânticos e o desenvolvimento de tecnologias que nos permitiram construir o único relógio atômico do hemisfério Sul”, afirmou.
A concepção do programa CEPID, segundo Bagnato, permitiu também explorar a interdisciplinaridade inerente às áreas de fronteira das ciências. Segundo ele, a perspectiva de longo prazo do Cepof possibilitou a coligação dos vários programas de pesquisa que orbitavam em torno do centro em São Carlos.
“Foi isso que permitiu uma conexão profunda entre a óptica e as áreas de saúde. Uma excelência de dimensões mundiais nasceu dessas possibilidades. Hoje, graças ao CEPID, somos líderes mundiais no diagnóstico de lesões cancerosas com luz, assim como no tratamento de câncer de pele com terapias fotônicas”, destacou.
Além do avanço do conhecimento, a conexão entre os programas de pesquisa permitiu a implementação de inovações tecnológicas de base científica, segundo Bagnato.
“Muitas empresas nasceram dos projetos. Evidentemente, o desenvolvimento dessas empresas seria difícil de ocorrer em dois ou três anos. Não se trata de projetos oportunistas, mas de projetos de estabelecimento de bases científicas”, disse.
Esse cenário favoreceu as conexões entre os cientistas e a pesquisa colaborativa. “A convivência proporcionada pelos projetos deu aos profissionais a oportunidade de interagir intensamente, do ponto de vista da sinergia entre as diversas áreas”, afirmou.
Pioneirismo em gases quânticos
Segundo Bagnato, o contexto de excelência gerado pelo CEPID permitiu que os cientistas se aventurassem em problemas sérios e complexos como as pesquisas sobre gases quânticos, com experimentos na área de condensação de Bose-Einstein – uma fase da matéria formada por átomos em temperaturas próximas do zero absoluto e que permite a observação de efeitos quânticos em escala macroscópica.
“Somos o único laboratório da América Latina que realiza, nessa área, trabalhos em nível de igualdade com os países do hemisfério Norte. Somos pioneiros no estudo da turbulência quântica nos fluidos atômicos”, disse.
Os estudos do Cepof sobre turbulência quântica em superfluidos quânticos, como o condensado de Bose-Einstein, renderam ao grupo publicações na Nature, na Science News e no boletim da Sociedade Norte-Americana de Física, entre outras.
“Todos esses veículos de alto impacto deram destaque aos nossos trabalhos. Mas o principal é que, independentemente de onde fossem publicadas, essas pesquisas teriam gerado grande impacto na comunidade internacional por sua relevância e pioneirismo. Nossos estudos foram a semente para o nascimento de muitos grupos que desenvolvem hoje trabalhos na área de fluidos quânticos”, afirmou.
Outro aspecto positivo das atividades do Cepof foi a difusão da ciência. O fato de tratar a divulgação científica em pé de igualdade com a própria pesquisa, segundo ele, potencializou a motivação dos cientistas envolvidos com o centro.
“Organizamos uma infraestrutura de difusão da ciência que está sendo tomada como referência internacional. Ela inclui canal de TV, atividades para o público em geral e para alunos do ensino infantil ao ensino médio. Reconhecemos que a ciência precisa estar nas atividades de todo mundo”, disse Bagnato.
Entre os objetivos de um CEPID está a transferência de conhecimento para o benefício da sociedade e essa difusão, segundo Bagnato, contribuiu para a mudança cultural que vem ocorrendo na comunidade científica brasileira em relação à importância dada à difusão.
“Hoje, não se vê um cientista que não esteja preocupado em difundir ciência. Há dez anos, isso ficava exclusivamente a cargo de quem trabalha na área de pedagogia e educação. Mas, agora, o pesquisador se preocupa em fazer com que a sociedade entenda ciência”, afirmou.
Segundo Bagnato, como parte do segmento de difusão da ciência, o Cepof organizou cursos preparatórios para estudantes que participaram de olimpíadas científicas. “O resultado desse esforço coletivo do qual participamos é que, pela primeira vez, temos uma medalha de ouro na Olimpíada de Física. Isso ainda irá avançar mais”, declarou.
O sucesso dos CEPIDs, segundo Bagnato, também inspirou seu desdobramento em nível nacional, com a criação dos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia. “Tenho a convicção de que os CEPIDs mudaram a forma de fazer ciência em São Paulo e essa conquista motivou a criação de um programa nacional nos mesmos moldes”, disse.
Leia mais: Prazo para edital do CEPID termina em 15 de agosto.
Mais informações: www.fapesp.br/cepid.
Agência FAPESP