Na carta, Flávio Bockmann, do Departamento de Biologia da FFCLRP-USP, e colegas anunciam que estão reunindo suas coleções dispersas em diversos laboratórios para formar um Museu da Biodiversidade. A iniciativa teve apoio da FAPESP a partir de um projeto selecionado na Chamada de Apoio à Infraestrutura de Pesquisa – Centros Depositários de Informações, Documentos e/ou Coleções Biológicas.
Segundo os autores do texto, as universidades com coleções científicas bem estruturadas fornecem um ambiente muito rico para o treinamento de biólogos que, posteriormente, serão os responsáveis por lidar com as pressões relacionadas à conservação e proteção da biodiversidade.
Bockmann conta que o imenso volume de material biológico armazenado em inúmeras outras universidades brasileiras está aumentando exponencialmente à medida que avança a expansão da educação superior no país.
“É fundamental que outras universidades brasileiras tomem iniciativas semelhantes, consolidando suas coleções e coordenando esforços na pesquisa sobre a biodiversidade para contribuir com as políticas de conservação e gestão”, disse à Agência FAPESP.
Bockmann destaca que geralmente os grandes museus têm origem em coleções científicas que, no início, são acumuladas por pesquisadores nas universidades. Mas, para que se transformem em museu, é preciso que haja investimento que possibilite a sua institucionalização. Caso contrário, o material permanece disperso e muitas vezes só não se perde por esforço dos próprios pesquisadores.
“Hoje, acumulamos um volume muito grande de material científico em coleções que estão em diferentes graus de conservação e manutenção. O problema é que a responsabilidades por esses acervos não está nos regimentos das universidades”, explicou.
O problema das coleções biológicas, segundo Bockmann, tem escala mundial. Isso motivou o grupo de pesquisadores a divulgar a iniciativa do Museu de Biodiversidade na Nature. No Brasil, o problema se acentua ainda mais, já que o país detém a maior megabiodiversidade do mundo.
“Temos grandes coleções espalhadas por universidades de todo o país, muitas vezes sem os devidos cuidados. Além disso, atualmente qualquer estudo de avaliação ambiental no país exige que todo o material coletado seja tombado em coleções científicas. No nosso caso, recebemos material biológico continuamente e a tendência é que isso cresça cada vez mais”, afirmou.
Segundo Bockmann, o apoio financeiro da FAPESP permitiu que a FFCLRP-USP desse início ao processo de institucionalização e organização de suas coleções. “A iniciativa da FAPESP de lançar uma chamada especificamente voltada para a gestão de coleções biológicas é exemplar. Nossa expectativa é que o projeto do museu crie um efeito multiplicador, incentivando outras iniciativas semelhantes”, disse.
A manutenção das coleções, segundo Bockmann, exige investimentos de caráter organizacional – incluindo a compra de servidores e a implantação de softwares gestores dos acervos –, além de recursos para a estrutura física.
“Estamos utilizando os recursos, por exemplo, para montar a infraestrutura de armazenamento, incluindo estantes compactadoras modulares e para adquirir um equipamento de raio X digital, muito utilizado na área de vertebrados. Trata-se de uma verba relativamente modesta em relação aos enormes resultados que pode trazer”, afirmou.
De acordo com o pesquisador, a construção está estimada em R$ 6 milhões e a previsão é que sejam investidos R$ 20 milhões para que o museu seja completado e se torne operacional. O orçamento total está estimado em R$ 70 milhões.
As coleções da FFCLRP-USP, segundo Bockmann, incluem, por exemplo, um vasto herbário e um importante acervo de peixes, répteis, crustáceos, de paleontologia e de entomologia, além da maior coleção do mundo de abelhas sem ferrão. “São mais de dez coleções. Nossa estimativa é que o acervo tenha, no momento, mais de 600 mil exemplares. Mas esse número cresce continuamente”, disse.
Essa coleção, segundo Bockmann, formará a base para o acervo expositivo do museu. “Essa é uma parte importante do projeto, porque não queremos que o museu seja apenas um pretexto para guardar as coleções para pesquisa. Queremos fazer uma exposição pública de nível internacional. O objetivo é ambicioso: queremos um museu que seja um polo de atração em âmbito nacional e não apenas regional”, afirmou.
Mais informações: www.nature.com
Agência FAPESP