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As coleções biológicas existentes nas universidades, em geral, não estão incluídas no orçamento permanente das instituições. Por conta disso, as limitações de recursos financeiros ameaçam esses acervos de importância capital para o avanço do conhecimento sobre a biodiversidade. Essa preocupação foi levantada por um grupo de pesquisadores da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da Universidade de São Paulo (USP), em uma carta publicada na edição de 21 de abril da revista Nature.
Na carta, Flávio Bockmann, do Departamento de Biologia da FFCLRP-USP, e colegas anunciam que estão reunindo suas coleções dispersas em diversos laboratórios para formar um Museu da Biodiversidade. A iniciativa teve apoio da FAPESP a partir de um projeto selecionado na Chamada de Apoio à Infraestrutura de Pesquisa – Centros Depositários de Informações, Documentos e/ou Coleções Biológicas.

Segundo os autores do texto, as universidades com coleções científicas bem estruturadas fornecem um ambiente muito rico para o treinamento de biólogos que, posteriormente, serão os responsáveis por lidar com as pressões relacionadas à conservação e proteção da biodiversidade.

Bockmann conta que o imenso volume de material biológico armazenado em inúmeras outras universidades brasileiras está aumentando exponencialmente à medida que avança a expansão da educação superior no país.

“É fundamental que outras universidades brasileiras tomem iniciativas semelhantes, consolidando suas coleções e coordenando esforços na pesquisa sobre a biodiversidade para contribuir com as políticas de conservação e gestão”, disse à Agência FAPESP.

Bockmann destaca que geralmente os grandes museus têm origem em coleções científicas que, no início, são acumuladas por pesquisadores nas universidades. Mas, para que se transformem em museu, é preciso que haja investimento que possibilite a sua institucionalização. Caso contrário, o material permanece disperso e muitas vezes só não se perde por esforço dos próprios pesquisadores.

“Hoje, acumulamos um volume muito grande de material científico em coleções que estão em diferentes graus de conservação e manutenção. O problema é que a responsabilidades por esses acervos não está nos regimentos das universidades”, explicou.

O problema das coleções biológicas, segundo Bockmann, tem escala mundial. Isso motivou o grupo de pesquisadores a divulgar a iniciativa do Museu de Biodiversidade na Nature. No Brasil, o problema se acentua ainda mais, já que o país detém a maior megabiodiversidade do mundo.

“Temos grandes coleções espalhadas por universidades de todo o país, muitas vezes sem os devidos cuidados. Além disso, atualmente qualquer estudo de avaliação ambiental no país exige que todo o material coletado seja tombado em coleções científicas. No nosso caso, recebemos material biológico continuamente e a tendência é que isso cresça cada vez mais”, afirmou.

Segundo Bockmann, o apoio financeiro da FAPESP permitiu que a FFCLRP-USP desse início ao processo de institucionalização e organização de suas coleções. “A iniciativa da FAPESP de lançar uma chamada especificamente voltada para a gestão de coleções biológicas é exemplar. Nossa expectativa é que o projeto do museu crie um efeito multiplicador, incentivando outras iniciativas semelhantes”, disse.

A manutenção das coleções, segundo Bockmann, exige investimentos de caráter organizacional – incluindo a compra de servidores e a implantação de softwares gestores dos acervos –, além de recursos para a estrutura física.

“Estamos utilizando os recursos, por exemplo, para montar a infraestrutura de armazenamento, incluindo estantes compactadoras modulares e para adquirir um equipamento de raio X digital, muito utilizado na área de vertebrados. Trata-se de uma verba relativamente modesta em relação aos enormes resultados que pode trazer”, afirmou.

De acordo com o pesquisador, a construção está estimada em R$ 6 milhões e a previsão é que sejam investidos R$ 20 milhões para que o museu seja completado e se torne operacional. O orçamento total está estimado em R$ 70 milhões.

As coleções da FFCLRP-USP, segundo Bockmann, incluem, por exemplo, um vasto herbário e um importante acervo de peixes, répteis, crustáceos, de paleontologia e de entomologia, além da maior coleção do mundo de abelhas sem ferrão. “São mais de dez coleções. Nossa estimativa é que o acervo tenha, no momento, mais de 600 mil exemplares. Mas esse número cresce continuamente”, disse.

Essa coleção, segundo Bockmann, formará a base para o acervo expositivo do museu. “Essa é uma parte importante do projeto, porque não queremos que o museu seja apenas um pretexto para guardar as coleções para pesquisa. Queremos fazer uma exposição pública de nível internacional. O objetivo é ambicioso: queremos um museu que seja um polo de atração em âmbito nacional e não apenas regional”, afirmou.

Mais informações: www.nature.com

Agência FAPESP