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Ada-YonathO conhecimento que agora se acumula rapidamente sobre os ribossomos – estruturas celulares que fabricam proteínas – está alimentando a esperança de que sejam encontrados antibióticos mais eficientes que os atuais. Muitos antibióticos agem sobre ribossomos, paralisando a produção de proteínas vitais, mas as bactérias têm oferecido uma crescente resistência à ação desses medicamentos. “A crescente resistência das bactérias torna a busca por medicamentos mais eficazes uma necessidade urgente”, comentou uma das ganhadoras do prêmio Nobel de Química de 2009, a israelense Ada Yonath, em uma apresentação no dia 20, em São Paulo, em que resumiu seus 30 anos de trabalho com ribossomos. 
A perspectiva de antibióticos mais eficazes ganhou força depois de um desafio puramente científico ter sido superado: a formação de cristais de ribossomos, uma etapa essencial para o estudo de suas estruturas e funções por meio da cristalografia de raios X. A cristalização, considerada impossível durante décadas, foi obtida por meio do resfriamento das células que contém essas estruturas.

O domínio da técnica e o decorrente salto sobre o conhecimento sobre os ribossomos renderam a três especialistas nessa área – Venkatraman Ramakrishnan, do Laboratório de Biologia Molecular em Cambridge, Inglaterra, Thomas A. Steitz, da Universade Yale, Estados Unidos, e Ada Yonath, do Instituto Weizmann, de Israel – o Prêmio Nobel de Química de 2009.

“Agora, os cientistas das empresas farmacêuticas terão a possibilidade de desenvolver novos antibióticos”, comentou Ada Yonath, que esteve em São Paulo na semana passada. Como parte da programação brasileira do Ano Internacional da Química, ela fez palestras na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e participou da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA) no Laboratório Nacional de Luz Síncroton (LNLS), em Campinas. A ESPCA é uma modalidade lançada em 2009 pela FAPESP para financiar a organização de cursos de curta duração em pesquisa avançada nas diferentes áreas do conhecimento do estado de São Paulo.

Ada Yonah, uma elegante senhora de 71 anos de cabelos brancos encaracolados, tornou os ribossomos mais conhecidos também do grande público ao falar na noite do dia 20 diante do auditório lotado do Clube Hebraica, em São Paulo.
O organismo humano, ela lembrou, é formado por aproximadamente 1014 (o número 1 seguido de 14 zeros) células. Cada célula – as do fígado, por exemplo – pode conter 6 milhões de ribossomos, que produzem proteínas de modo contínuo e preciso, com apenas um erro em cada 1 milhão de proteínas produzidas.

Uma bactéria, exemplo de organismo unicelular, pode conter cerca de 100 mil ribossomos em incessante funcionamento. “Os antibióticos se infiltram nos ribossomos das bactérias e não nos do organismo humano por causa de sutis diferenças nas estruturas desses componentes celulares”, disse.

Ela comparou a ação dos antibióticos – sintéticos ou produzidos naturalmente pelos organismos vivos – sobre os ribossomos à luta de Davi contra o gigante Golias. As moléculas dos antibióticos são bem menores que os ribossomos, mas podem entupir os túneis dos ribossomos e impedir a produção de proteínas, essenciais à manutenção dos seres vivos.

No final da apresentação, ela contou que tão importante quanto o Nobel é o Prêmio de Avó do Ano, concedido, todo ano, por uma de suas netas. Ela também agradeceu ao Instituto Weizmann “por ter me permitido perseguir meus sonhos”.

Revista Pesquisa FAPESP