As duas novas espécies – classificadas por Kellner depois de mais de 20 anos de pesquisas em fósseis disponíveis nos acervos de instituições como a canadense Universidade de Alberta e o americano Museu de História Natural da Universidade do Kansas – são Geosternbergia maiseyi e Dawndraco kanzai. Ambas viveram na região onde atualmente é os Estados Unidos. "Elas se diferenciam por feições tais como a extensão e direção da crista formada pelo frontal, a inclinação e extensão das pré-maxilas, a forma e tamanho da fenestra temporal inferior e a proporção do rosto", explica o pesquisador."
O estudo, que recebeu apoio da FAPERJ por meio da bolsa Cientistas do Nosso Estado, além de apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), rendeu a publicação de um artigo na revista "Anais da Academia Brasileira de Ciências". Para Kellner, a polêmica histórica de classificação dos Pteranodon deve-se à dificuldade de observação dos tecidos moles dos animais. Cores e tamanho, por exemplo, são pistas importantes para ajudar a identificar as espécies – sobretudo quando se fala de machos e fêmeas mas que nem sempre são consideradas. "A maioria das pesquisas se baseia apenas na observação dos ossos, que por serem finos e frágeis muitas vezes chegam às mãos dos pesquisadores em um estágio de conservação inadequado", justifica o paleontólogo.
Para Kellner, o diferencial do seu estudo é apresentar uma perspectiva mais ampla do que aquelas observadas anteriormente para se definir a taxonomia dos Pteranodon, agora representado por quatro espécies em vez das duas que se suspeitava anteriormente. "O reconhecimento de fósseis é uma tarefa complexa, que deve levar em conta a morfologia dos animais, a geografia e até a estatigrafia [ramo da geologia que estuda os estratos ou camadas de rochas, buscando determinar os processos e eventos que as formaram]. Sem considerar o conjunto desses dados, é mais difícil determinar se há espécies novas ou não", avalia o pesquisador, que deve apresentar o estudo na próxima reunião da Society of Vertebrate Paleontology a ser realizada em Las Vegas, que é o principal congresso internacional de paleontologia de vertebrados.
Apesar de terem vivido na mesma época, na Era Mesozóica, os pterossauros não devem ser confundidos com os dinossauros. "Pterossauros e dinossauros são como irmãos. Tinham ancestrais comuns, mas cada um teve uma história evolutiva própria", explica Kellner. Os pterossauros foram as formas vivas voadoras mais gigantescas que já existiram. Havia também espécies bem pequenas, com cerca de um palmo de abertura entre uma ponta da asa e outra, mas as mais imponentes chegavam a ter 10 metros de envergadura.
No caso das duas novas espécies descritas por Kellner, o tamanho era uma característica notável. "Dawndraco kanzai poderia ter algo em torno de cinco metros de uma ponta a outra da asa, enquanto que o Geosternbergia maiseyi atingia quatro metros", conta o pesquisador, que é autor do livro Pterossauros, os senhores do céu do Brasil (editora Vieira & Lent) e responsável pela coluna mensal Caçadores de Fósseis na Ciência Hoje On-Line. Ambas as espécies, como a maioria dos pterossauros daquele tempo, deveriam se alimentar de peixes, em voos rasantes sobre o mar interior que dividia a América do Norte. "Com suas grandes cristas, estas formas deveriam ter colorido o céu dos tempos cretáceos há milhões de anos atrás, bem antes dos primeiros seres humanos terem caminhado sobre o planeta", conclui.
Assessoria de Comunicação FAPERJ