De acordo com o docente do IQ, a definição de uma nova rota para a produção da atorvastatina deverá causar um grande impacto mercadológico e social. Ele observa que somente no Brasil as vendas do Lipitor® renderam à Pfizer, em 2009, cerca de R$ 400 milhões. No mundo todo, esse montante alcançou aproximadamente US$ 13 bilhões no mesmo ano. “Como se trata de um medicamento de uso contínuo e muitas pessoas não podem comprá-lo no país, cabe ao Sistema Único de Saúde [SUS] fornecê-lo. Por meio dessa nova forma de produzir o princípio ativo, que é mais barata, eficiente e rentável que a convencional, a tendência é que o preço final do medicamento sofra uma redução, o que trará vantagens tanto para a população quanto para as finanças públicas”, considera Dias.
No processo desenvolvido no laboratório do IQ, continua ele, foram introduzidas várias inovações incrementais. Dito de modo simplificado, os pesquisadores melhoraram as etapas de síntese do princípio ativo, promovendo o uso de insumos mais baratos, reduzindo a quantidade de solventes e reagentes, realizando as reações em condições mais brandas, com menor impacto ambiental. Os pesquisadores também desenvolveram uma rota de síntese mais curta e eficiente, que apresenta alguns intermediários inéditos, nunca antes preparados. As etapas-chave, mais importantes da nova rota, envolvem reações e intermediários que não haviam sido utilizados em nenhuma das patentes anteriores. Estas inovações tornam a rota de síntese bastante curta e atrativa, afirma Dias.
O próximo passo, conforme o docente, é promover o depósito da patente. “Para isso, vamos contar com o apoio e orientação da Inova [Agência de Inovação Inova Unicamp, órgão que faz a gestão da propriedade intelectual no âmbito da Universidade]”, adianta. Na opinião do pesquisador, em termos técnicos, a transferência da tecnologia para o setor produtivo não deve enfrentar dificuldades. “O maior desafio será transformar a produção de escala laboratorial em industrial. Isso, entretanto, o setor farmoquímco brasileiro tem totais condições de fazer”, analisa.
Além do provável impacto mercadológico e social da descoberta, o docente do IQ destaca que a pesquisa confirma que o país dispõe de capacidade instalada e massa crítica tanto para incrementar tecnologias já existentes, para introduzir inovações em processos de obtenção de medicamentos já conhecidos e disponíveis no mercado, como para desenvolver novos fármacos. “Creio que o que está faltando para avançarmos mais nesses aspectos é o maior apoio governamental, tanto da União quanto dos Estados, e também uma maior aproximação da academia com a indústria, principalmente no setor farmoquímico”, afirma.
Em seu laboratório no IQ, o professor Dias e sua equipe executam outros trabalhos relevantes. Atualmente, está em andamento um segundo estudo no âmbito do INCT-Inofar evolvendo também um medicamento genérico, cujo impacto social e mercadológico promete ser igualmente importante. “Os resultados obtidos até aqui são muito promissores, mas por uma questão de sigilo não posso adiantar mais detalhes”, explica Dias. Os pesquisadores da Unicamp mantêm, ainda, um projeto em cooperação com a Organização Mundial da Saúde (OMS) que tem por objetivo o desenvolvimento de um novo fármaco para ser empregado no tratamento da Doença de Chagas. “Também estamos para iniciar um estudo sobre a leishmaniose. São projetos que nos orgulham muito, pois estão relacionados a doenças negligenciadas, cujas vítimas estão concentradas em países pobres ou em desenvolvimento”, diz o professor Dias. A OMS credenciou seu laboratório como centro de referência mundial em síntese orgânica para tratamento da Doença de Chagas.
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