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Em 2009, a malária infectou mais de 300 mil pessoas no Brasil e mais de 240 milhões no mundo. Apesar das tentativas de controlar a doença através da eliminação do vetor e do tratamento dos enfermos, a erradicação ou mesmo a queda da incidência a níveis significativamente mais baixos não foi alcançada. Um dos caminhos possíveis para atingir esse objetivo distante pode ser uma vacina eficaz - o que, no Brasil, é algo pesquisado por uma rede da qual a USP faz parte, através do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) e da Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF).
A malária é causada por três diferentes Plasmodium (um gênero de protozoário): o P. vivax, o P. falciparum e o P. malariae, que são transmitidos aos seres humanos através da picada do mosquito Anopheles. Os estudos do ICB e da FCF se restringem ao P. vivax, o menos agressivo, mas também o mais prevalente no Brasil, causador de quase 80% dos casos da doença no país.

Os estudos integram as pesquisas do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia de Vacinas (INCTV), concebido para apoiar o desenvolvimento de vacinas contra doenças negligenciadas e que envolve 16 centros de pesquisa brasileiros. Cada um faz uma pequena parte da pesquisa e, eventualmente, há reuniões para que os cientistas compartilhem os resultados com seus colegas.

A equipe do ICB, coordenada pela professora Irene Soares, tenta identificar antígenos que possam compor uma vacina e reproduzi-los através de bactérias e leveduras modificadas. Antígenos são a "parte" do microorganismo patógeno (o plasmódio, para a malária) que faz com que o organismo humano reconheça que há uma ameaça e produza anticorpos para eliminá-la. A ideia é isolar esse antígeno, que normalmente é uma proteína específica do patógeno, e usá-lo para despertar a reação imune do corpo. Em outras palavras, a pessoa vacinada não fica doente porque só recebeu uma proteína inofensiva e, ao mesmo tempo, seu organismo passa a ter anticorpos que atacarão o patógeno no caso de uma infecção, já que ele tem em si a proteína.

O processo, na prática, é ainda mais complexo. "Há mais de 80 anos tenta-se desenvolver uma vacina para a malária, sem sucesso", diz a professora Sílvia Boscardin, coordenadora da pesquisa da vacina no ICB, que ainda diz que a vacina que estão tentando desenvolver ainda pode demorar mais de 20 anos para ser usada comercialmente. Ela conta que a principal dificuldade em chegar a uma vacina eficaz é o complexo ciclo do protozoário.

O plasmódio é inoculado no homem na forma esporozoítos, que chegam rapidamente ao fígado e invadem células conhecidas como hepatócitos. Lá se reproduzem assexuadamente gerando os merozoítos, que invadem as hemácias onde se reproduzem novamente, também de forma assexuada. Então arrebentam as hemácias em que se alojaram e invadem outras. Neste momento é que causam no hospedeiro os sintomas típicos da doença como febre e mal-estar e que surgem, da reprodução, os gametócitos, formas sexuadas do protozoário, que são aspirados pelo Anopheles quando o mosquito pica uma pessoa infectada, recomeçando o ciclo.

Indústria farmacêutica e doenças negligenciadas
Sem a rede de pesquisas, seria muito difícil chegar a alguma vacina. Explica-se: criar uma vacina é um trabalho complexo, caro e demorado. De acordo com o artigo "The fragility of the U.S. vaccine supply" (New England Journal of Medicine, 10 de março de 2005), o tempo médio de desenvolvimento de uma vacina é de 12 a 15 anos e o custo de 500 milhões a um bilhão de dólares. O orçamento de 2010 da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), principal órgão de fomento a pesquisa no Estado,  foi de cerca de R$ 750 milhões. O de toda a USP foi de aproximadamente R$ 3 bilhões.

Não por acaso, grandes grupos farmacêuticos privados dominam o desenvolvimento e a fabricação de vacinas. No Brasil, quem autoriza a fabricação do produto é a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Atualmente constam registros válidos de 96 vacinas em seu site, dos quais 77 estão em nome de empresas privadas, sendo 73 de empresas privadas estrangeiras.

Com esse domínio, a produção de vacinas acaba ficando sujeita ao interesse comercial, e doenças como a malária, com grande incidência apenas em áreas tropicais e, via de regra, pobres, são deixadas de lado pelos grandes fabricantes - daí o termo "negligenciadas", que dá nome ao INCT do qual a USP faz parte.

Brasileiras x estrangeiras
Quanto têm de verba e quantas vacinas têm registradas no Brasil as duas maiores fabricantes nacionais e estrangeiras

usp-13dic2010

USP Online