“Com o esgotamento das fontes desses minérios e a necessidade de diminuir o impacto ambiental da indústria, o reaproveitamento dos rejeitos vem ganhando importância”, analisa Nury. Ela explica que os metais presentes nas sobras contaminam o solo e as águas, o que torna imprescindível retirar o máximo possível antes do descarte. Os restos do processo de extração contêm partes dessas substâncias, mas as empresas que buscam reaproveitá-los optam, na maioria das vezes, pelo modelo que usa somente química.
A tese recebeu o título “Recuperação de níquel e outros metais a partir de diferentes fontes (Rejeitos Minerais de Processo Industrial e Pentlandita) por lixiviação bacteriana e ácida”, sob a orientação de Oswaldo Garcia Junior e co-orientação de Denise Bevilaqua, ambos professores do IQ. A empresa Votorantim Metais forneceu todos os rejeitos analisados.
A estudante, que concluiu o mestrado na Universidade Nacional da Colômbia, recebeu bolsa da Colfuturo (Fundação para o Futuro da Colômbia) para o primeiro ano de doutorado na Unesp. Durante os três anos seguintes, obteve bolsa do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico). A pesquisadora também estudou por seis meses na Universidade Duisburg-Essen, na Alemanha, pelo programa de Intercâmbio Brasil-Alemanha (DAAD).
Partículas micrométricas
O processo de extração e purificação dos minérios é composto de uma série de etapas. Após a obtenção de rochas nas minas, essas pedras são transformadas em britas de tamanhos que variam de acordo com o uso industrial. A partir desse ponto, concentram-se os metais por meio da flotação, um processo de separação entre sólidos e líquidos com auxílio de bolhas de gás. A sobra dessa operação é a lama, uma espécie de pó, com partículas muito pequenas (entre 50 e 100 micrômetros ou milionésimos de metro). Nela, partes dos metais de interesse ficam dispersas em meio a carbonatos, silicatos e outros minerais.
Os metais extraídos vão para o forno para aumentar o grau de pureza. De um lado, as siderúrgicas obtêm o minério de interesse, mas o lixo restante ainda contém partículas das substâncias. Essa última sobra é chamada de escória e apresenta uma aparência semelhante a pequenas bolinhas de vidro.
Os dois rejeitos - lama e escória - passam pela lixiviação, uma forma de separar os metais de interesse por meio da oxidação. O método empregado por Nury é chamado biológico e usa o ácido sulfúrico apenas para estabilizar o pH (unidade de medida que indica acidez, neutralidade ou alcalinidade). Após esse controle, as bactérias realizam todo o trabalho corrosivo.
“Em relação ao modelo químico, a lixiviação bacteriana tem custo inferior, processo mais simples e um menor impacto ambiental”, diz a pesquisadora. Ela também verificou que a utilização dos microorganismos na lama é mais produtiva e pode alcançar, por exemplo, quase o dobro da liberação de níquel em comparação à lixiviação química.
O estudo levou em conta uma exposição de 14 dias, mas testes feitos por Nury em parceria com cientistas alemães indicam que períodos mais prolongados garantem melhor desempenho – em cinquenta dias, a extração de níquel dos rejeitos chegou a 80%. Outra descoberta é que as bactérias cultivadas em laboratório podem ser tão eficientes quanto àquelas pré-existentes nos rejeitos, hipótese que os pesquisadores acreditavam improvável.
Unesp Assessoria de Comunicação e Imprensa