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Há dez anos, na edição de 13 de julho de 2000, a Nature, uma das mais importantes revistas científicas no mundo, destacou em sua capa o sequenciamento da bactéria Xylella fastidiosa, bactéria causadora da clorose variegada de citros, popularmente conhecida como praga do amarelinho. Era a primeira vez, em 131 anos de existência da revista, que sua capa trazia uma pesquisa feita por um grupo do Brasil. A novidade foi importante para a ciência mundial, por se tratar do primeiro sequenciamento do genoma de um fitopatógeno, um microrganismo causador de doença em plantas.
Mas foi de importância ainda maior para a ciência brasileira, pelas conquistas científicas resultantes do projeto.

Agora, na edição desta semana, a Nature comenta em editorial os dez anos da iniciativa, financiada pela FAPESP e conduzida por quase duas centenas de cientistas ligados à Organização para Sequenciamento e Análise de Nucleotídeos (Onsa), a rede virtual de laboratórios criada pela FAPESP em 1997.

O sequenciamento da Xylella é considerado o ponto de partida do “boom da biotecnologia no Brasil pela revista, que relembra a origem do projeto, em 1997, a partir da ideia do biólogo Fernando Reinach, então professor titular do Instituto de Química da Universidade de São Paulo, imediatamente apoiada pelo então diretor científico da FAPESP, José Fernando Perez.

A ideia era justamente promover um salto na pesquisa em biotecnologia no Brasil por meio de uma proposta ousada: o sequenciamento do genoma de um organismo.

“Para muitos cientistas da velha guarda avessos a riscos, que sabiam o quanto o país estava atrás do resto do mundo em biotecnologia, o plano parecia exageradamente ambicioso. Mas os dois [Perez e Reinach] foram em frente de modo a construir a capacidade em genômica e bioinformática da qual o Brasil não dispunha, rapidamente organizando um grupo para conduzir o projeto e escolher uma bactéria para sequenciar”, disse o editorial.

“A FAPESP investiu o equivalente a US$ 12 milhões, grande parte dedicados a sequenciadores, computadores e reagentes, enquanto o grupo reuniu e treinou pesquisadores de diversas áreas para desenvolver um conjunto amplo e duradouro de habilidades e conhecimentos.”

O projeto também teve apoio do Fundo Paulista de Defesa da Citricultura (Fundecitrus). A estimativa na época era que a clorose variegada de citros causasse prejuízos estimados em US$ 100 milhões anuais nas plantações brasileiras, afetando um terço dos pomares de laranja.

Menos de três anos depois, os esforços foram recompensados com a conclusão do sequenciamento, mostrando que a Xylella tem quase 2,7 milhões de pares de base (nucleotídeos) em seu cromossomo, um terço a mais do que se estimava anteriormente. Muitos dos 2,9 mil genes da bactéria, cerca de um terço, não haviam sido descritos pela ciência.

Visibilidade mundial

Segundo a Nature, dez anos depois resultados da iniciativa continuam surgindo. “A biotecnologia brasileira amadureceu ao ponto em que seus cientistas são atores no cenário internacional. E a FAPESP continua promovendo grandes ideias, incluindo um novo programa para financiar um amplo portfólio de pesquisa em bioenergia”, disse.

“A FAPESP também está trabalhando para superar um dos maiores obstáculos ao progresso – a falta de pesquisadores doutores – ao encorajar cientistas a preencher as lacunas com jovens estrelas dos Estados Unidos e da Europa, parte de um esforço mais amplo para internacionalizar a ciência brasileira”, ressaltaram os editores da revista.

Mas a revista destaca que o boom precisa ter continuidade. “Há dez anos, a biociência brasileira foi transformada por uma iniciativa corajosa. Cientistas e o governo devem desenvolver e estender o progresso dela resultante”, afirmou.

“Mais esforços são necessários com a mesma disposição [das iniciativas da FAPESP]: mais atitude, mais riscos e mais empreendedorismo que coloquem a ciência pública na prática privada, uma área na qual o Brasil continua atrás.”

“Talvez mais do que qualquer coisa, o sequenciamento da Xylella demonstra os benefícios de pensar grande. Cientistas assumiram um projeto importante, executaram-no com precisão e publicaram os resultados em inglês em uma revista internacional de expressão. Os resultados foram divulgados pela mídia em todo o mundo. (...) A Xylella ajudou a mudar a percepção que o Brasil tinha de si mesmo, de sua capacidade e de sua posição no mundo da ciência”, destacou a Nature.

“Importantíssimo para a FAPESP esse reconhecimento manifestado no editorial da Nature. Ao destacar realizações, o editorial sublinha também ações em desenvolvimento. Com enorme satisfação vemos a FAPESP contribuir mais uma vez para a boa visibilidade mundial da ciência feita no Brasil”, disse Carlos Henrique de Brito Cruz, diretor científico da FAPESP.

O editorial Brazil’s biotech boom (doi:10.1038/466295a) pode ser lido em www.nature.com/nature/journal/v466/n7304/full/466295a.html.

Agência FAPESP