Chaible concorreu com outros 70 trabalhos apresentados no encontro anual da entidade, realizado entre 20 e 24 de junho em Chicago. Recebeu medalha, certificado e US$ 500.
Também foi contemplado com o Student Travel Award concedido pela mesma instituição. Essa premiação custeou a viagem e a participação de Chaible no evento.
“Trata-se de uma pesquisa importante. Os resultados aumentaram o conhecimento dos fatores necessários para o desenvolvimento adequado dos ossos”, disse Maria Lúcia Zaidan Dagli, professora titular da FMVZ-USP e orientadora de Chaible.
A pesquisa partiu de uma dificuldade enfrentada pelos cientistas que estudam as junções comunicantes e as proteínas que compõem estas junções, as conexinas. Camundongos geneticamente modificados e destituídos da Cx43 morrem pouco após o nascimento, impossibilitando mais estudos a respeito da proteína.
“Sabíamos que essa morte ocorria por problemas cardíacos, mas como a Cx43 é muito importante desconfiávamos de que a sua falta teria muitas outras consequências”, contou Chaible à Agência FAPESP.
O estudante, que teve apoio da Fundação por meio de uma Bolsa de Mestrado, começou a investigar vários tecidos de camundongos nocaute durante o desenvolvimento em fase fetal.
Os nocautes são animais geneticamente modificados com o objetivo de não expressar determinados genes, os quais são nocauteados a fim de se estudar as consequências do processo no organismo. No caso, foi suprimido o gene Cx43 relacionado à produção da proteína de mesmo nome.
Um dos efeitos mais evidentes encontrados foi o atraso no desenvolvimento ósseo dos indivíduos sem a proteína. Os camundongos nocaute apresentaram de um a dois dias de atraso no desenvolvimento dos ossos em comparação àqueles ditos “selvagens”, ou que não têm seus genes nocauteados. Isso ocorreu devido a uma diminuição da comunicação intercelular na qual a proteína Cx43 exerce uma função fisiológica fundamental, a de componente das junções do tipo “gap”.
Foram comparados animais descendentes da mesma fêmea e formados durante a mesma gestação. “Sempre encontramos nos nocautes um atraso bem significativo, como ossos imaturos, células ainda indiferenciadas, o que não era visto nos irmãos normais”, disse Chaible.
Depois, começou-se a procurar mais evidências para comprovar o atraso na formação óssea e a sua associação com a ausência da Cx43, o que envolveu análises de ordem morfológica e até a da expressão de 11 genes. Os resultados confirmaram a relação.
A descoberta poderá beneficiar pesquisas sobre uma doença humana, a displasia óculo-dento-digital (ODDD, na sigla em inglês). Trata-se de uma enfermidade genética rara que apresenta entre os seus sintomas atrofia das falanges, dentes muito pequenos e outras alterações ósseas e que é causada pela mutação do gene Cx43.
“Talvez os resultados encontrados nas cobaias poderão ser extrapolados para essa doença que atinge humanos”, especulou Chaible. Maria Lúcia concorda e aponta que a pesquisa poderá ter uma aplicação futura.
As pesquisas com a Cx43 também são importantes para a oncologia. Camundongos desprovidos da proteína são mais suscetíveis a tumores, o que torna estudos como esse valiosos para o conhecimento de vários tipos de câncer.
“Em pessoas, cães e gatos com determinados tumores é observada uma redução da expressão dessa proteína, o que a torna um forte indicador de agressividade da doença”, disse Chaible.
Animais geneticamente modificados
Agora, com Bolsa de Doutorado da FAPESP, a pesquisa de Chaible continua com um objetivo maior: desenvolver camundongos geneticamente modificados nos quais seja possível impedir a expressão da Cx43 de forma condicional, ou seja, em animais que sobrevivam ao nascimento e cheguem à idade adulta. Na obtenção desse modelo será utilizado o promotor induzível Tet-On, ainda inédito. O novo animal tornará possível o aprofundamento das pesquisas sobre o papel dessa proteína.
Maria Lúcia explica que o camundongo a ser desenvolvido permitirá pesquisas in vivo, o que possibilitará conhecer a função da conexina 43 em todo o organismo. Atualmente, esses estudos têm de ser feitos em culturas de células ou parcialmente em animais que apresentam apenas um alelo da Cx43, pois os exemplares homozigotos – totalmente desprovidos da proteína – não sobrevivem.
“A conexina 43 é uma das mais ubíquas, ou seja, ela está presente em maior número de tipos celulares dentro do organismo. Assim, será melhor elucidado seu papel no desenvolvimento, na função cardíaca e inclusive no câncer”, disse a professora.
Segundo Maria Lúcia, alguns estudos de sua equipe demonstraram a associação entre a proteína e a alta suscetibilidade ao desenvolvimento de neoplasias pulmonares. Atualmente está sendo estudado o papel da Cx43 também em neoplasias mamárias, melanomas e sarcomas.
Agência FAPESP