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DNAA síntese de combustível, o combate à poluição, a produção de novos medicamentos e avanços nas pesquisas com células tronco são alguns dos benefícios apontados por pesquisadores da Universidade de Brasília como consequência do desenvolvimento do primeiro genoma sintético. O experimento foi publicado com destaque na edição de sexta-feira, 21 de maio, da revista Science e surpreendeu cientistas de todo o mundo. O genoma sintético foi desenvolvido pela equipe do geneticista americano Craig Veiter.
Ele injetou com sucesso o material produzido em outra célula, que passou a seguir as instruções contidas nos genes da primeira. “A equipe partiu da possibilidade de gerar vida artificial e teve sucesso, foi uma prova de conceito importantíssima”, comenta a professora Andréa Maranhão, do Departamento de Biologia Celular.

De acordo com a pesquisadora, a descoberta poderia conter, por exemplo, acidentes como o vazamento da plataforma da British Petroleum, no Golfo do México. Para isso, seriam criadas bactérias capazes de degradar o poluente.

Processos industriais como a produção de biocombustíveis e a degradação de resíduos também seriam facilitados. “A curto prazo, essa é a área que mais se beneficiará”, acredita Andréa. Bactérias poderão fermentar resíduos de uma fábrica e a criação de organismo ampliará as potencialidades da pesquisa em etanol. “Esse tipo de estudo já é feito na UnB, mas apenas com pequenas modificações no genoma”, acrescenta.

A síntese de substâncias deficientes em algumas pessoas seria outra possibilidade a partir do genoma sintético. O professor Fábio Pitella, do Departamento de Farmácia da UnB, explica que isso já é feito alterando apenas partes dos genes. No entanto, a criação de células inteiras capazes de cumprir esse papel poderia evitar casos de rejeição, comuns nas atuais técnicas. “Uma célula tronco poderia ser diferenciada de uma especializada na produção de fator VIII, substância essencial para pacientes hemofílicos”, afirma.

Segundo Fábio Pitella os ganhos na pesquisa de doenças genéticas também serão grandes. “A partir dessa descoberta poderemos entender melhor como os genes interagem entre si no surgimento de uma doença como o câncer” exemplifica. Por outro lado, acrescenta, a ciência terá que atualizar seu entendimento em campos como a interferência do ser humano nos processos de seleção natural. “A evolução segundo Darwin concebeu não será mais a mesma.”

CAUTELA – Os pesquisadores da UnB ressaltam, entretanto, que a aplicação do experimento exige cautela e pode gerar uma grande discussão na sociedade.

Na possibilidade de criação de espécies sintéticas para conter acidentes com petróleo, por exemplo, os impactos ecológicos teria, de ser muito bem estudados. “Poderia se cogitar, por exemplo, fazer com que a bactéria sintética não vivesse muito, evitando maiores problemas para os ecossistemas. Mas isso exigiria muito cuidado”, explica. “É preciso saber até onde a gente vai e como isso pode ser usado”, acredita. Para o professor Fábio, esse tipo de avanço levanta questões éticas.  “É preciso ficar claro que esse é apenas o primeiro passo. Ainda há muito o que se estudar e discutir”, diz.

UnB Agência