As descobertas de uma mandioca resistente a pragas do continente africano e outra rica em vitamina A, pelo Laboratório de Melhoramento Genético da Mandioca da Universidade de Brasília, foram descritas na edição de maio da revista Scientific American. De autoria do Nagib Nassar, coordenador da equipe, e do cientista mexicano Rodomiro Ortiz, do Centro Internacional de Melhoramento de Milho e Trigo, CIMMYT, na sigla em espanhol, o artigo relata também outra descoberta do Laboratório da UnB: o desenvolvimento de técnica de plantio direto da mandioca, sem o uso de estacas de cimento.
O tipo desenvolvido pelo Laboratório é resistente a uma doença conhecida como Mosaica Africana, que atingiu o oeste africano na década de 70, e cultivada atualmente em quatro milhões de hectares do continente. O cruzamento que resultou nessa mandioca foi feito entre a espécie comum, disponível nos supermercados, e a variedade selvagem, cientificamente conhecida como Manihot glaziovii. Apesar de imprópria para o consumo, o tipo selvagem é mais resistente a pragas e a seca, comuns na região oeste da África.
A técnica utilizada pela equipe do Laboratório foi a de cruzamento clássico, que é colocar manualmente o pólen de uma planta nas flores femininas de outra. O resultado obtido foi encaminhado ao Instituto Internacional de Agricultura Tropical, que fez novos cruzamentos com variedades africanas da mandioca comum. O objetivo era adaptar a descoberta às condições locais de solo e clima.
A descoberta teve forte impacto na produção africana de mandioca. “Esse alimento é a principal fonte de calorias do oeste africano”, explica Nagib Nassar.
MAIS SAUDÁVEL – Depois da mandioca resistente ao Mosaica Africana, a equipe do Laboratório na UnB fez outra descoberta, também citada no artigo da Scientific American. A equipe do professor Nagib Nassar descobriu uma variedade de mandioca que possui 50 vezes mais caroteno do que a comum. O caroteno é a substância que, processada pelo fígado, gera a vitamina A, nutriente importante para o fortalecimento da retina. A mandioca é um alimento pobre em nutrientes, o que explica a deficiência nutricional de algumas populações. Encontrado pela equipe de Nagib Nassar em tribos da Amazônia, que cultivavam esse alimento, a mandioca protéica foi levada ao Laboratório da UnB e, em seguida, distribuída a 12 agricultores do Distrito Federal. Hoje, é a principal espécie cultivada nas proximidades de Brasília (leia aqui).
O cruzamento de espécies levou os pesquisadores a uma outra descoberta. A equipe desenvolveu sementes que possibilitam o plantio a partir das próprias sementes sem perder o vigor da planta. Em geral, a plantação é feita com o uso de estacas de cimento, que contaminan o solo. Segundo Nagib Nassar, os métodos utilizados pelo Laboratório são mais baratos e seguros do que os transgênicos. “Porque não exigem a transferência de genes de vírus e bactérias”, explica.
Pesquisa da Universidade de Brasília encontrou uma variedade de mandioca que possui 50 vezes mais caroteno do que a mandioca comum. A edição nacional da Scientific American trará a versão em português do artigo no próximo mês.
UnB Agência



